Manifesto de Voltaire sobre a diversidade humana ganha nova edição

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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Obra transcende seu contexto histórico em defesa da tolerância religiosa e da justiça social    

Em 13 de outubro de 1761, a notícia da morte de Marc-Antoine Calas comoveu os moradores de Toulouse, na França. Havia boatos de que o jovem protestante se convertera ao catolicismo, e não tardaram os rumores de que o episódio – talvez um assassinato, talvez um suicídio – teria como responsável Jean Calas, pai do morto, motivado por sua religião. Para Voltaire, que investigou o caso, os acontecimentos que levaram à execução de Jean Calas constituíam, na realidade, um equívoco judicial movido por fanatismo religioso. O Tratado sobre a tolerância, de autoria do filósofo francês, foi publicado com o duplo objetivo de reabilitar Jean Calas e salvar a honra de sua família. Contudo, as ideias apresentadas no texto ultrapassam suas circunstâncias, e o livro pode ser lido como um manifesto em defesa da diversidade humana. Agora, a obra ganha nova tradução pela Editora Unesp.

“Em seu Tratado, Voltaire articula o fato circunscrito com argumentos e demonstrações sobre a tolerância religiosa, empregando ferocidade irônica e argumentação veemente. O livro obteve sucesso imediato e muito amplo, alertando o Conselho de Luís XV, que termina por anular a condenação. O processo foi objeto de novo julgamento, a memória do injustiçado foi reabilitada e a família retomou seus direitos”, escreve o tradutor da obra, professor Jorge Coli. “O Tratado sobre a tolerância é, portanto, um escrito que nasce da atualidade contemporânea à época em que foi redigido, e que incide sobre a atualidade da época em que é lido. Militando por um acontecimento específico, ele conjuga o particular e o geral. Os capítulos não se encadeiam numa demonstração contínua, mas constituem-se como pequenos ensaios que orbitam em torno do problema central da tolerância. Denuncia a mistura entre a questão religiosa e a questão jurídica, tendo, de modo subterrâneo, uma defesa constante pela laicidade.”

Voltaire demonstra vasta erudição em matéria de teologia (com citações de Tomás de Aquino e da Bíblia) e de história das religiões (dos antigos gregos e romanos até a revogação do Édito de Nantes). Demonstra também habilidade literária ao variar tanto a forma dos capítulos quanto as vozes que acompanham o “eu” da narrativa, como mártires, imperadores ou até a natureza (aqui entendida como voz da razão), além, é claro, de historiadores e filósofos. Por fim, vale notar: mesmo sendo um crítico da Igreja católica, isso não impede Voltaire de, em algumas passagens, dramatizar o tom ao falar na perspectiva de um católico sincero que suplica a Deus por justiça no mundo humano.

“No dia seguinte ao trágico ataque terrorista em janeiro de 2015, perpetrado por extremistas islâmicos contra o jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, o livro Tratado sobre a tolerância, de Voltaire, bateu todos os recordes de venda. Em pouco mais de um mês, 100 mil exemplares foram comprados na França”, escreve Jorge Coli. “Isso demonstra como a tolerância é uma questão aguda em nosso tempo, e como se busca Voltaire para compreender o fanatismo. Indica também que Voltaire, ao encarnar o espírito do Iluminismo, é um autor atual, necessário e presente.”

Sobre o autor

Voltaire (François-Marie Arouet, 1694-1778), escritor e filósofo francês, foi um dos principais pensadores do Iluminismo. Defensor da liberdade de expressão, da tolerância religiosa e da separação entre Igreja e Estado, suas obras satíricas e filosóficas influenciaram profundamente o pensamento europeu do século XVIII e a Revolução Francesa. Em 2021, a Editora Unesp publicou seus Pensamentos vegetarianos na Coleção Pequenos Frascos.

Título: Tratado sobre a tolerância
Autor: Voltaire
Tradução: Jorge Coli  
Número de páginas: 205
Formato: 13,7 x 21 cm
ISBN: 978-65-5711-232-8

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