Pesquisador investiga os chamados “anos rebeldes” a partir de um ângulo particular: com foco na disputa internacional para ganhar corações e mentes no auge do embate entre estadunidenses e soviéticos
No contexto da chamada Guerra Fria, um dos pontos principais em disputa eram as mentes dos formadores de opinião ao redor do globo, seja pelos soviéticos da extinta URSS, seja pelos estadunidenses. Essa “Guerra Fria cultural” teve no Brasil um capítulo marcado por algumas peculiaridades, e é sobre elas que se debruça o sociólogo Marcelo Ridenti em O segredo das senhoras americanas: intelectuais,internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural, lançamento da Editora Unesp.
“Este livro trata de intelectuais – no sentido amplo que abarca também certos artistas e estudantes – que atuaram nas circunstâncias da Guerra Fria buscando o desenvolvimento pessoal e coletivo em sua atividade, com destaque no espaço público”, anota Ridenti. “Participando, por exemplo, do círculo internacional comunista, caso de Jorge Amado e seus camaradas da América Latina. Ou, ao contrário, recorrendo a meios fornecidos pelo lado ocidental, como nos vínculos com o Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), sediado em Paris, patrocinador da revista Cadernos Brasileiros com fundos dos Estados Unidos. E ainda pela oportunidade dada a estudantes para conhecer gratuitamente a Universidade Harvard e o modo de vida americano em plenos anos rebeldes. Essas três passagens foram analisadas, uma em cada capítulo.”
O título da obra faz referência a esta última atividade, custeada pela Associação Universitária Interamericana, entidade organizada por um grupo de mulheres que nunca escondeu que parte de seus fundos vinha de empresas multinacionais, nem que houve algum suporte oficial dos Estados Unidos. No entanto, souberam guardar segredo sobre o montante do financiamento e sua procedência específica, pois sabiam que a descoberta afastaria o interesse de participação de estudantes de esquerda a quem pretendiam cativar com a estada de cerca de um mês em seu país.
“O objetivo é analisar sociologicamente passagens históricas que podem iluminar a compreensão da Guerra Fria cultural naquele momento de modernização da sociedade brasileira”, explica o autor. “Então se contava cada vez mais com a participação de intelectuais e artistas para alcançar o desenvolvimento, como se pretendia na época, cujas grandes questões estruturais – abarcando as lutas entre capitalistas e comunistas, capitaneados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, depois também por Cuba – foram abordadas a partir de experiências de pessoas e grupos que constituíram suas relações e redes de sociabilidade.”
Sobre o autor – Marcelo Ridenti é professor titular de Sociologia no IFCH da Unicamp. Foi professor da Unesp, câmpus de Araraquara (1990-1998), e da UEL (1983-1990). Publicou, pela Editora Unesp, Brasilidade revolucionária: umséculo de cultura e política (2010), O fantasma da revolução brasileira (2.ed., 2010) e Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV (2.ed., 2014).
Confira a seguir a mesa-redonda de lançamento do livro:
https://www.youtube.com/watch?v=Y5f825RKn44
Título: O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural
Autor: Marcelo Ridenti
Número de páginas: 421
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 89
ISBN: 978-65-5711-107-9