Max Horkheimer expressa o crepúsculo ambíguo de seu tempo

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Em mais de 140 aforismos, pensador traz à tona o fim da fase liberal do capitalismo na Alemanha na antessala do nazismo, num retrato íntimo e pessoal que pinta sobre si e o tempo em que vive  


Numa época crucial da história alemã, quando se decidia o destino da República de Weimar, o teórico alemão Max Horkheimer redigiu os aforismos reunidos em Crepúsculo (Dämmerung), que chegam em edição renovada pela Editora Unesp. Nas mais de 140 notas, escritas entre 1926 e 1931, ele analisa as três alternativas: os ideais liberais e iluministas de sua constituição, a revolução socialista e a contrarrevolução nazista. Nesse contexto, os aforismos abordam uma ampla gama de temas, desde elementos filosóficos até aspectos de uma sociologia (crítica) da vida cotidiana. São uma súmula de suas reflexões no período em que se preparava para assumir a direção do Instituto de Pesquisa Social, também conhecido como Escola de Frankfurt.

“Horkheimer não está certo se seu crepúsculo é o poente de Hegel ou o despontar do sol no horizonte de Marx”, alerta o professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Luiz Philipe de Caux, que assina a tradução. “Mais ambíguo, no seu uso cotidiano, que o português ‘crepúsculo’, Dämmerung, significa não simplesmente o ocaso, o anoitecer, o lusco-fusco entre o dia e a noite, nem tampouco a alvorada, o novo lusco-fusco que se produz quando é a noite que vira dia, mas o próprio gradiente de cores da transição que se manifesta em ambos, motivo pelo qual se fala, em alemão, quando se quer evitar a equivocidade, em Morgendämmerung (aurora, a meia claridade do amanhecer) ou Abenddämmerung (ocaso, a meia claridade do anoitecer). O leitor desprevenido – que, na dúvida, consulte um dicionário – deve ter em conta que o mesmo acontece com nosso vocábulo ‘crepúsculo’, que, embora soe aos ouvidos de modo imediato como designando o crepúsculo vespertino, traz consigo clandestina, pelas mesmas razões de sua correspondente germânica e como aquelas curiosas palavras freudianas que significam também o seu exato oposto, a meia-luz da aurora. O crepúsculo é aquela hora perigosa do poeta, que pode, todavia, redundar na salvação.”

A experiência trazida pelo alemão revela a transição do momento pelo qual passava. Na antessala da ascensão completa do nazismo, o que se encontra, à espera, é a fase liberal do capitalismo, que agoniza. Horkheimer apresenta os resultados desse momento econômico, mas o faz sem números, dados, correlações, formulações de leis, confirmação de hipóteses, gráficos etc. O que se lê é o registro da experiência puramente subjetiva, íntima, privada. Um retrato de si e do tempo em que habita.

“Em ‘Afetos estigmatizados’, Horkheimer vê justamente o papel positivo dos afetos na produção da verdade teórica: ‘Na realidade, o pensamento burguês estigmatiza apenas os afetos dos dominados contra os dominantes’. A exigência de imparcialidade, desde sempre movida por afetos e interesses, ‘significa hoje, portanto, um estreitamento do horizonte, condicionado pela dependência da ciência ao capital’.”, escreve de Caux. “Por isso, a ideia de neutralidade da ciência é parcial, não está acima, mas joga para um dos lados, ao passo que a parcialidade consciente daqueles que lutam por uma universalidade que ainda não existe é que obtém a verdadeira objetividade do conhecimento (como se vê em ‘A parcialidade da lógica’, ‘Aspiração desinteressada à verdade’ e ‘Uma fábula sobre a consequência lógica’). O leitor interessado neste documento seminal da primeira teoria crítica frankfurtiana tem, então, nas páginas que seguem, uma experiência a fazer.”

Sobre o autor

Max Horkheimer (Stuttgart, 14 de fevereiro de 1895 – Nuremberg, 7 de julho de 1973) foi um filósofo e sociólogo alemão. Foi diretor e professor do Instituto de Pesquisas Sociais, conhecido como Escola de Frankfurt. Editor da revista do instituto, publicou diversos ensaios sobre os fundamentos da chamada "teoria crítica" sobre a sociedade contemporânea. De sua autoria, a Editora Unesp publicou Eclipse da razão.

Título: Crepúsculo: notas alemãs (1926-1931)
Autor: Max Horkheimer
Tradução: Luiz Philipe de Caux
Número de páginas: 208
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 46
ISBN: 978-65-5711-146-8

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