Clássicos como Reinações de Narizinho, Memórias da Emília, O Poço do Visconde e tantas outros que permearam a infância de grande parte dos brasileiros, ganham releitura de professores, mestres e doutores de diversas universidades brasileiras, com Monteiro Lobato, livro a livro: obra infantil, uma coedição da Editora Unesp e Imprensa Oficial, organizada por Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini, que acaba de ganhar nova tiragem.
Com um capítulo dedicado a cada um dos livros infantis publicados por Monteiro Lobato, este livro se ocupa da linguagem, da imagem, das ilustrações e dos conceitos editoriais do escritor, apresentando o percurso percorrido por Lobato em cada uma de suas obras. Os autores também abordam a maneira como as matrizes culturais foram absorvidas por Lobato e como ele as transformou em histórias para crianças.
As análises compiladas fundamentam-se em cartas escritas por Lobato a seu público e em documentos editoriais e escolares, relacionando as obras estudadas com as ideias de Walter Benjamim, Umberto Eco, Jorge Luis Borges e outros pensadores. Assim, a forma sistemática da produção de Lobato acaba por se destacar, descrevendo o seu processo de escritura de fábulas e a sua busca pela clareza e a concisão textual.
A obra ainda mostra como os elementos narrativos típicos da oralidade são resgatados pelo autor, fato que dá mais voz para os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo e levam assim a uma experiência mais imersiva ao convidá-lo a participar da história. Além disso, também ressalta a inserção de referências internacionais nos textos de Lobato que, ao reescrever ou citar mitos gregos como O Minotauro, obras modernas de ficção, caso de Peter Pan, do escocês James Barrie, e Da Terra a Lua, de Júlio Verne, aprofunda ainda mais a temática de seus textos, possibilitando novas reflexões.
Na análise de obras como Dom Quixote das Crianças, Histórias de Tia Nastácia, O Saci e outras, Monteiro Lobato, livro a livro também se volta para as metáforas criadas pelo escritor. Sua demonstração de problemas socioculturais brasileiros é revelada, culminando em discussões sobre os enredos e referencias que criaram o mundo fantástico que permeia suas obras.