O historiador, cientista político e escritor baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira morreu na última sexta-feira, 10 de novembro, aos 81 anos, em Heidelberg, na Alemanha, onde morava e exercia a função de cônsul-honorário. Nascido em Salvador, era doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo, professor titular aposentado de política exterior do Brasil no departamento de história da Universidade de Brasília. Possuía o título de Doutor Honoris Causa outorgado pelas Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, do Paraná, bem como pela Universidade Federal da Bahia. E, em 2006, a União Brasileira de Escritores (UBE) elegeu-o, por aclamação, Intelectual do Ano de 2005, conferindo-lhe o Troféu Juca Pato, por sua obra Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque).
"Mesmo se não considerássemos sua marcante carreira de homem público, Moniz Bandeira permaneceria sendo intelectual notável: um dos maiores expoentes da historiografia do Brasil contemporâneo e analista informado, arguto e meticuloso do cenário geopolítico mundial", afirma o diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp, Jézio Hernani Bomfim Gutierre. "Com o desaparecimento do Professor Moniz, a cultura brasileira perde em inteligência e ganha em mediocridade."
Autor de mais de 20 obras, a Editora Unesp teve a oportunidade de publicar alguns de seus títulos. Saiba mais abaixo sobre cada um deles:
O 'milagre alemão' e o desenvolvimento do Brasil – 2ª edição
Em O ‘milagre alemão’ e o desenvolvimento do Brasil, Luiz Alberto Moniz Bandeira demonstra como a emergência da Alemanha, como potência industrial, possibilitou ao Brasil maior capacidade de negociação vis-à-vis dos Estados Unidos, na medida em que constituiu não só uma opção de comércio, mas, igualmente, uma fonte de investimentos e de tecnologia. Apesar de devastada na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental logo se recuperou e, em pleno boom econômico, destinou, de 1952 até o curso dos anos 1960, a maior parte de seus investimentos ao Brasil, porque não podia fazê-lo nos países comunistas do Leste Europeu e temia uma guerra atômica na Europa.
A obra do cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira apresenta vários aspectos realmente inéditos do processo que culminou com a queda dos regimes comunistas no Leste Europeu, a derrubada do Muro de Berlim e a desintegração do chamado Bloco Socialista. Um desses aspectos é a participação do KGB, o serviço secreto soviético, com a colaboração dirigentes do Stasi, o serviço de inteligência da RDA, na derrubada de Erich Honecker. Essa e outras informações sobre as lutas internas entre os dirigentes da extinta República Democrática Alemã, antes e depois da demolição do Muro de Berlim, foram obtidas em entrevistas feitas diretamente com Egon Krenz, o sucessor de Honecker, Hans Modrow e Lothar de Maizière que foram primeiros-ministros entre a demolição do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha, e com Günter Schabowski, membro do Politburo do SED. Também Vernon Walter, embaixador dos EUA em Bonn, deu o seu depoimento. Todos esses homens desempenharam o mais relevante papel nos acontecimentos, e suas entrevistas, concedidas em janeiro/fevereiro de 1991, permitiram que o autor reconstruísse a história e desvelasse a trama que ocorreu nos bastidores da RDA, antes e depois da abertura do Muro.
O governo João Goulart – 8ª edição: As lutas sociais no Brasil – 1961-1964
Numa época em que vários setores da esquerda e a máquina de propaganda dos que se assenhorearam do poder em 1° de abril de 1964 acusavam João Goulart de populista, fraco, inclusive por não haver resistido ao golpe militar, Luiz Alberto Moniz Bandeira, durante a ditadura militar, ousou e buscou restabelecer a verdade histórica, analisando seu governo e os fatores de sua derrubada. João Goulart não foi populista, não era demagogo; o PTB, escorado nos sindicatos, desempenhara empiricamente um papel similar ao dos partidos social-democratas na Europa; o golpe militar em 1964, com o apoio dos Estados Unidos, constituiu um episódio da luta de classes; o cabo Anselmo trabalhava para a CIA, em conexão com o Cenimar (Centro de Informações da Marinha); o motim dos marinheiros foi uma provocação, visando a unir as Forças Armadas contra o governo; e Goulart não teve condições de resistir, por não mais contar com o respaldo da maior parte das Forças Armadas e saber que os Estados Unidos se dispunham a intervir militarmente e dividir o Brasil, no caso de uma guerra civil. Se Goulart fosse fraco, cederia à pressão dos generais e dos Estados Unidos, fechando o CGT, reprimindo os sindicatos e demitindo do governo os elementos de esquerda, e o golpe militar não teria ocorrido.