Nobel de Literatura em 1927, o filósofo e diplomata Henri Bergson está entre os autores franceses mais traduzidos no mundo. Sua obra-prima, A evolução criadora, com tradução a partir do texto original, acaba de ganhar nova impressão. Diante da apologia ao rigor científico e às leis do determinismo, Bergson lança a afirmação de que a totalidade tem a mesma natureza do indivíduo, em um movimento incessante, com um impulso de liberdade criadora que transforma de forma irrefreável a matéria.
Em busca de uma filosofia capaz de amarrar a teoria do conhecimento e a teoria da vida, para que estas, “por meio de um processo circular, impulsionem uma à outra indefinidamente”, Bergson questiona o mecanicismo e a finalidade, discute o tempo e os fenômenos vitais, o dualismo mente/corpo e a relação entre torpor, instinto e inteligência. O autor estabelece uma linha divisória entre o inorgânico e o organizado para efeito de reflexão, mas lembra que a matéria deve ser antes compreendida como um corpo indiviso – mais um fluxo do que uma coisa. Relaciona, assim, o inerte e o vivo.
Em seguida, Bergson demonstra que essa mesma oposição se encontra entre a inteligência e o instinto, embora estes se destaquem sobre um fundo único, que ele denomina “consciência geral”. Sua visão, entretanto, é dotada de criticidade: para ele, a inteligência tal como é estruturada tem a função fundamental de ligar o mesmo ao mesmo, e somente são adaptáveis aos moldes da inteligência os fatos que se repetem. Poucos são os momentos nos quais o homem se reapodera de si e é realmente livre. É necessária uma contração de si sobre si próprio, a busca de uma “pura duração”.
Conceitos como intuição, duração, memória e impulso vital são elementos fundamentais do pensamento bergsoniano. A filosofia, para o autor, mantém uma relação com seu objeto de conhecimento que é o oposto da relação científica. A primeira pensa o absoluto, algo que só poderia ser dado a partir de uma intuição; a segunda pensa o relativo e é, portanto, dependente da análise.