Obra referencial de Monteiro Lobato expõe problemas agrários e queimadas no Brasil

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terça-feira, 6 de abril de 2021

Fora do universo infantojuvenil, Urupês cobre os temas ligados à vivência do autor em meio ao ambiente rural e denuncia o atraso socioeconômico nacional à época

Reconhecido por sua vasta produção infantojuvenil, com personagens inesquecíveis que povoam o imaginário de gerações de leitores, notadamente aqueles de seu Sítio do Pica-Pau Amarelo, o universo lobatiano vai muito além. Intelectual no sentido mais amplo da palavra, Monteiro Lobato (1882-1948) foi escritor, tradutor, editor, empreendedor e um pensador dentre os mais influentes de seu tempo, que deixou marcas indeléveis na literatura brasileira. Sua presença na Coleção Clássicos da Literatura Unesp é assegurada com a publicação de Urupês, texto centenário e referencial do autor. 

A obra é um documento de época que radiografa literariamente as marcas do Brasil de então: país essencialmente agrário, subdesenvolvido, cujas mazelas de sua população rural não pareciam estar no centro das preocupações do poder público. E sua concepção se dá no contexto particular em que Lobato se insere: vivendo numa fazenda no Vale do Paraíba, herança que lhe permitiu empreender, comprando a Revista do Brasil e, mais tarde, fundando sua própria editora, a Monteiro Lobato & Cia, mais tarde Companhia Editora Nacional. 

Neste cenário agrário, fica impresso o choque de realidade com o qual ele tem de lidar em meio aos problemas agrários locais, notadamente o rigor de um inverno seco e as queimadas que assolam as matas. Sua insatisfação a respeito se materializa numa carta que envia à redação do jornal O Estado de S. Paulo, relatando o cenário crítico. Os editores, porém, não a veiculam na seção designada aos leitores: estarrecidos pela contundência e qualidade do relato – em que chama a Serra da Mantiqueira de “um cinzeiro imenso”, em meio ao fogo que “amoita-se insidioso nas piúcas” –, valorizam-no numa publicação em destaque.

Este texto, intitulado “Velha praga”, teve tamanha repercussão que acabou estimulando o autor a produzir uma série de outros, também caracterizados pela crítica ao Estado inoperante. “Urupês”, o conto que batiza esta coletânea, veio nessa safra. A aura especial que sempre o envolveu é facilmente explicável pela metáfora com que, a partir do personagem Jeca Tatu, o escritor soube inverter certos paradigmas literários. 

Jeca é um anti-herói, um tipo grosseiro, bronco, sem nenhuma elegância, que dirá erudição, indiferente até mesmo a questões de asseio pessoal. Pior: assumidamente afeito à bebida, é preguiçoso e não tem ambições. Além da forma como pintou seu protagonista, Monteiro Lobato chocou seus pares pela iconoclastia na linguagem, fazendo uso de inventivos neologismos e um coloquialismo levado ao limite, voltados a uma caracterização literária da oralidade como até então não se fazia. Jeca Tatu tornou-se um personagem tão grande na literatura brasileira que, com o passar das décadas, entrou para os dicionários: substantivo sinônimo de caipira, de matuto interiorano. Ao lado do Macunaíma, de Mário de Andrade, talvez seja a representação mais singela e popular de uma suposta “índole” brasileira, quando se tenta explicar seus sentidos menos generosos: a indolência conveniente e a personificação do atraso socioeconômico.

Sobre a coleção - Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Já estão publicados outros nove títulos. Confira aqui.

Título: Urupês
Autor: Monteiro Lobato
Número de páginas: 166
Formato: 13,4 x 20,2 cm
Preço: R$ 40 - durante a III Feira do Livro da Unesp, o livro está com 50% de desconto na Livraria Unesp.
ISBN: 978-85-393-0837-8

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