O volume reúne duas obras, Alciphron, ou o filósofo minucioso e Siris, que ganham primeira tradução em língua portuguesa
Durante a vida de George Berkeley (1685-1753), seus primeiros escritos publicados não despertaram o mesmo interesse que as duas últimas grandes obras: Alciphron (1732) e Siris (1744). Estas obras da maturidade, mais do que as anteriores, contribuiriam para a fama que ele desfrutou em seu tempo. Posteriormente, porém, esse interesse foi suplantado pela maior atenção dada aos primeiros escritos. Nas últimas décadas, no entanto, elas voltaram a ser objeto de muitos estudos e artigos, e também a receber novas traduções. E, agora, os leitores de língua portuguesa podem travar contato com Alciphron ou O filósofo minucioso; Siris, lançamento da Editora Unesp, com inédita e refinada tradução.
“Embora aparentemente muito diferentes entre si, Alciphron e Siris têm em comum a defesa da religião cristã. Essa preocupação, na verdade, é uma marca constante em outros escritos de Berkeley”, anota o tradutor do texto, Jaimir Conte. “Ela está presente nos Princípios e nos Diálogos, cujo objetivo explícito é a refutação do ceticismo e do ateísmo, que ele via como uma ameaça para a filosofia e para a religião. O grande interesse de Berkeley pela religião levou-o também a seguir a carreira eclesiástica. Em 1734, foi nomeado bispo anglicano, assumindo, no extremo sul da Irlanda, a diocese de Cloyne, razão pela qual quando hoje se menciona o seu nome ele é lembrado como filósofo irlandês e Bispo de Cloyne.”
O volume divide-se nas duas obras mencionadas. Alciphron é estruturado como um diálogo filosófico entre quatro personagens, no qual Berkeley combate os argumentos dos chamados “livres-pensadores” (como Mandeville e Shaftesbury), fazendo uma apologia do Cristianismo. Já Siris é tanto um tratado sobre as virtudes medicinais da água de alcatrão quanto uma visão do filósofo das cadeias do ser, explorando a gradual ascensão que vai do mundo dos sentidos e da mente, até chegar ao sobrenatural e a Deus, a essência trina.
“Parte do sucesso do Alciphron talvez se explique pelas qualidades literárias e pelo estilo da obra, composta na forma de diálogos filosóficos, segundo o modelo platônico. Os sete diálogos que compõem a obra, estruturados em breves capítulos, estão escritos como se fossem uma carta de Díon, o personagem narrador, que raramente entra na discussão, dirigida a seu amigo Theages, que se encontra na Inglaterra”, pontua Conte.
Já Siris “apresenta uma cadeia de reflexões que pretende conduzir o leitor de um extremo a outro da cadeia dos seres: das coisas sensíveis mais grosseiras ao ser puramente espiritual do qual emanaria o todo”, explica. “Assim, do alcatrão – base para a preparação da água de alcatrão apresentada no início da obra como uma panaceia universal –, Berkeley passa em seguida para as resinas; das resinas para o espírito vegetal; do espírito vegetal para o espírito etéreo que animaria todas as coisas no mundo sensível e constituiria um princípio universal da vida; o espírito etéreo, por sua vez, encaminha as reflexões de Berkeley para os espíritos finitos e, finalmente, para o próprio Deus.”
Sobre o autor – Filósofo empirista, teólogo e bispo anglicano, o irlandês George Berkeley (1685-1753) ficou conhecido, sobretudo, por defender o imaterialismo baseado no princípio de que “ser é ser percebido”. Entre suas obras, destacam-se Ensaio de uma teoria nova da visão (1709), Três diálogos entre Hylas e Philonous (1713), O Alcipron (1732), Teoria da visão (1733), O analista (1734) e O questionador (1734-1737). Pela Editora Unesp, foi publicado Obras filosóficas (2010), que reúne textos clássicos do pensador.
Título: Alciphron ou O filósofo minucioso; Siris
Autor: George Berkeley
Tradução: Jaimir Conte
Número de páginas: 581
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 184
ISBN: 978-65-5711-096-6
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