Em 27 de junho de 1908, nascia um dos mais importantes escritores da literatura regionalista brasileira
Contista, romancista, novelista, médico e diplomata, João Guimarães Rosa integra o time dos grandes nomes que fizeram parte da terceira geração do modernismo. Nasceu em 27 de junho de 1908, no município de Cordisburgo, Minas Gerais. Foi um dos principais representantes do regionalismo brasileiro, ocupando a cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras por apenas três dias, depois de adiar por quatro anos sua posse. Morreu em 19 de novembro de 1967, no mesmo ano em que foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, tendo, deste modo, sua indicação cancelada.
Registrava suas observações, expostas em suas obras, no caminho percorrido até os pacientes. Assim, deu início a redação de seus primeiros contos que, em 1929, participaram de um concurso e garantiram a Rosa quatro publicações ilustradas na revista O Cruzeiro.
Quase todos os contos e romances de Guimarães percorrem o chamado sertão brasileiro e, alguns deles, são analisados em obras da Editora Unesp. Confira:
Luiz Roncari, um sério estudioso da literatura brasileira, em sua seleção de ensaios reunidos no livro O cão do sertão (304 páginas, R$ 54,00), interpreta alguns aspectos importantes das obras de Guimarães Rosa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. O tema dominante abordado é o do trânsito da família patriarcal para a família burguesa no Brasil, daquilo que se tinha por “arcaico” na ordem privada para o “moderno”. O autor procura mostrar como as deformações da ordem social brasileira encontram correspondências na forma literária. Nesse sentido dá grande atenção às dificuldades da mudança da condição da mulher e à reformulação de sua imagem nas obras destes três grandes nomes da literatura nacional.
No romance de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, identifica a presença de Antonio Conselheiro e Getúlio Vargas, representados, respectivamente, pelo velho “no sistema de quase-doido” e pelo fazendeiro Josafá Jumiro Ornelas. Isso não é feito apenas com o intuito de realizar uma releitura do romance a partir dos “fatos históricos subterrâneos que o sustentam”, mas também com o de revelar os bastidores históricos do romance, como uma das “camadas de composição do texto”.
No caminho de mão dupla adotado por Roncari, tanto a história ajuda a entender as elaborações literárias como estas também ajudam a esclarecer pontos essenciais daquela. Adotando tal metodologia, o autor abre “outras possibilidades de leitura das obras literárias e de um conhecimento mais profundo de determinados fatos sociais”, como as formas de vivência do amor nas antigas regiões escravistas coloniais.
Já em O professor e o escrivão: estudos sobre literatura brasileira e leitura (414 páginas, R$ 60,00), Carlos Erivany Fantinati estuda a obra de Lima Barreto e a visão do escritor sobre a mulher e o negro; o amor, da perspectiva do personagem Riobaldo, de Guimarães Rosa; o livro Cadeiras proibidas, de Ignácio de Loyola Brandão, segundo um conceito literário surgido ainda na antiguidade; a letra da música Feijão maravilha, de Gonzaguinha, à luz do processo dialético da aprendizagem. Estes são alguns dos vários temas de que se ocupa neste trabalho, sintetizando sua longa carreira acadêmica.
Disponível para download gratuito, em Guimarães Rosa em tradução, o autor Gilca Machado Seidinger estuda as relações entre enunciação, enunciado e história na obra Tutameia, de João Guimarães Rosa, tratando também da versão alemã assinada por Curt Meyer-Clason. Pressupondo que o processo de tradução altera significações originais ou produz novas significações não previstas pelo autor, a autora recorre à narratologia genettiana, bem como à teoria das modalidades da tradução, de Francis Aubert, para examinar as quarenta narrativas do livro. Uma obra importante no campo dos estudos literários, voltada para a ficção de Guimarães Rosa, e que aborda, com muita competência, um dos livros mais complexos e menos estudados do autor, levantando, ao mesmo tempo, aspectos relevantes para a análise teórica e para a prática da tradução de textos literários, sobretudo os modernos, que proporiam ao tradutor desafios antes inimagináveis.