Pensador se revela o mais caprichoso dos botânicos, dos zoólogos e dos escritores em coletânea de ensaios divulgados na imprensa ao longo de 20 anos
Primo Levi, um dos mais proeminentes intelectuais do pós-guerra, reúne em O ofício alheio, lançamento da Editora Unesp, textos que publicou esparsamente em jornais, sobretudo em La Stampa, entre 1964 e 1984. Temas como as ciências naturais, a zoologia, a astronomia e a literatura se tornam ponto de partida para uma série de divagações bem-sucedidas, de “invasões de campo, incursões nos ofícios alheios, caça ilegal em zonas proibidas”, que enriquecem sobremaneira a imagem que se tem do escritor.
Não há como saber se e quando a escrita de Primo Levi passaria sorrateiramente a toldar sua atuação como químico se ele não tivesse vivido a experiência do Holocausto, o que o levou a escrever seus dois primeiros livros. Mas o fato é que Levi transitou de um ofício a outro, e estes durante muito tempo conviveram pacificamente, fazendo o químico entrar para a história como escritor.
Para Italo Calvino, que assina o prefácio, o autor corresponde a sua vocação de enciclopedista das curiosidades vivazes e minuciosas e de moralista de uma moral que parte sempre da observação, destacando-se a dos animais e a das palavras. “Em suas divagações linguísticas, dominam as agradáveis reconstruções de como as palavras se deformam com o uso, no choque entre a dúbia racionalidade etimológica e a superficial racionalidade dos falantes”, escreve Calvino.
Nessa obra, Levi fala dos autores que lhe são caros, explica-nos por que escreve, evoca lembranças nostálgicas e irônicas da juventude, reflete sobre a ligação entre o mundo natural e o cultural. Com isso, o pensador termina por nos oferecer de forma oblíqua – mas preciosa – sua autobiografia, baseada em experiências intelectuais, escrita com seu estilo nítido, essencial, preciso. “[...] quando um leitor se surpreende com o fato de que eu, químico, tenha escolhido seguir o caminho da escrita, sinto-me autorizado a lhe responder que escrevo justamente porque sou um químico: meu velho ofício em grande medida se transformou no novo.”
Sobre o autor – Primo Levi (1919-1987), escritor e químico italiano, é autor de uma obra fundamental para a compreensão da experiência nos campos de extermínio e das décadas que se seguiram. Em meio a sua vasta produção, que inclui romances, contos, poemas, ensaios e textos memorialísticos, fulguram clássicos como A trégua (1963) e É isto um homem? (1966). A Editora Unesp publicou sua coletânea de ensaios A assimetria e a vida (2016).
Título: O ofício alheio
Autor: Primo Levi
Tradução: Silvia Massimini Felix
Número de páginas: 289
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 58,00
ISBN: 978-85-393-0639-8