Material foi redigido em meio a situações históricas específicas que, a despeito do caráter circunstancial, não deixam de ser relevantes do ponto de vista metodológico
Conceitos fundamentais do sistema filosófico de Jean-Jacques Rousseau, como a história hipotética, a vontade geral, a soberania popular sem representantes – para ficar em apenas três exemplos – parecem indicar um contundente afastamento entre suas propostas teóricas e a prática. No entanto, o genebrino também é autor de textos de intervenção política, diretamente ancorados na realidade concreta, como fica claro em Textos de intervenção política, lançamento da Editora Unesp que congrega uma profícua correspondência entre Rousseau e Matteo Buttafoco, militar aristocrata e partidário dos independentistas corsos, além dos textos Projeto de constituição para a Córsega e Considerações sobre o governo da Polônia e sua reforma projetada.
“Chamadas de ‘política aplicada’, ‘política concreta’ ou de textos de ‘prática’, essas obras formam um conjunto que poderia ser convenientemente identificado como ‘textos de intervenção política’, caso entendamos por intervir tanto o ato de emitir uma avaliação e opinião sobre um assunto específico quanto buscar influenciar os rumos e desenvolvimentos de um acontecimento factual”, anota, na apresentação, o organizador e tradutor do volume, Thiago Vargas. “Seja qual for a denominação dada a esse grupo de textos, convém realizar uma nuance importante no interior dessa tríade: diferente das Cartas, escritas por Rousseau como reação às acusações feitas contra o Emílio e o Contrato e redigidas em meio à exacerbação da crise com a república de Genebra, o Projeto e as Considerações foram trabalhos formalmente solicitados por terceiros, isto é, elaborados a pedido de políticos corsos e poloneses que representavam interesses de determinados grupos nacionais, a fim de angariarem apoio para suas respectivas causas.”
É interessante notar que essas obras foram redigidas em meio a situações históricas específicas, no calor dos acontecimentos, que, a despeito do caráter circunstancial, não deixam de ser relevantes do ponto de vista metodológico: sempre que Rousseau se pronuncia acerca de questões de fato, ele o faz orientado pelos princípios normativos estabelecidos em sua teoria política, considerando tais princípios como uma escala de medidas que serve para avaliar a conjuntura dada”, explica o tradutor. “A regra do método nas meditações políticas de Rousseau, vale lembrar, consiste em julgar o fato à luz de um modelo teórico. Sua teoria, nesses termos, funciona como fonte dos parâmetros que orientam o juízo – e, por conseguinte, a intervenção – do escritor político, mostrando-se, portanto, coerente e complementar em relação à prática.
“Os textos de intervenção são exemplos singulares de como a filosofia de Rousseau se vale do fundamento da imanência dos corpos políticos e assume que as condições concretas, ao se transformarem ao longo do tempo, exigem respostas antes impensadas: trabalhar no campo aberto das possibilidades é, afinal, um atributo da arte política”, escreve Vargas. “Assim, à escala oferecida pelos princípios do direito político corresponde a medida do incontável número de relações que, na história humana, caracterizam um país; e, nesse caso, os múltiplos modos de organização da sociedade possibilitam tantas abordagens possíveis quanto for o número de peculiaridades de um povo.”
Sobre o autor – Escritor, filósofo e músico genebrino, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é uma das grandes figuras do chamado Século das Luzes. Suas obras – entre elas, o Discurso sobre as ciências e as artes, o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, a Nova Heloísa, Do Contrato Social e Emílio – obtiveram logo enorme sucesso e desde então vêm motivando leituras apaixonadas de entusiastas e críticos nos séculos que o sucederam. De sua autoria, a Editora Unesp já publicou Cartas escritas da montanha (2006), Textos autobiográficos e outros escritos (2009), Dicionário de música (2021), Emílio ou Da educação (2022), Rousseau juiz de Jean-Jacques: Diálogos (2022) e Devaneios do caminhante solitário (2022).
Título: Textos de intervenção política
Autor: Jean-Jacques Rousseau
Organização, tradução, apresentação e notas: Thiago Vargas
Revisão técnica: Thomaz Kawauche
Número de páginas: 320
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 78
ISBN: 978-65-5711-089-8
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