Sucessos de Emília Viotti da Costa estão de volta em nova impressão

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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Dois títulos da historiadora Emília Viotti da Costa, que estavam esgotados, acabam de chegar de nova impressão. Da Monarquia à República já está em sua nona edição e Da senzala à colônia encontra-se na quinta edição.  

Escritos em diferentes momentos, os ensaios presentes em Da Monarquia à República: momentos decisivos traçam um panorama das raízes do processo de marginalização de amplos setores da população brasileira que perduram até os dias de hoje e revelam as causas da fraqueza das instituições democráticas e da ideologia liberal no Brasil. O livro demonstra que, a despeito das transformações ocorridas entre 1822, ano da Independência do Brasil, e 1889, quando foi proclamada a República, as estruturas da sociedade brasileira não se alteraram profundamente durante esse período. Fica evidente, nos estudos de Emília, a continuação de valores tradicionais elitistas, antidemocráticos e autoritários, bem como a sobrevivência de estruturas de mando em sistemas de clientela e patronagem.

Assumindo que dentro das determinações gerais do processo histórico há sempre uma relativa margem de liberdade, a autora evita as explicações mecanicistas, que apresentam os homens como vítimas de forças históricas incontroláveis. Com esse olhar, examina o comportamento das elites brasileiras e a intensa disputa de poder que marcou o período imperial brasileiro. A presença do herdeiro da Casa de Bragança no Brasil permitiu às elites alcançar a independência sem recorrer à mobilização das massas. No entanto, uma vez alcançado esse objetivo, a mesma elite competirá com o imperador pelo controle da nação, utilizando a bandeira do liberalismo como arma de oposição e instrumento de demolição das instituições coloniais obsoletas. Quando tomam o poder, entretanto, as oligarquias tornam-se conservadoras, perpetuando a economia agrária e a escravidão.

Em Da senzala à colônia, obra fundamental, a autora demonstra que a abolição dos escravos no Brasil representou apenas uma etapa na liquidação da estrutura colonial, mas golpeou duramente a velha classe senhorial e coroou um processo de transformações que se estendeu por toda a primeira metade do século 19. Tal processo prenunciava a transição da sociedade senhorial para a empresarial, do trabalho escravo para o assalariado, da monarquia para a República.

A publicação reconstitui a estrutura social e econômica daquele período, durante o qual emergiu uma nova classe dirigente, ainda predominantemente agrária, que assumiu a liderança com a proclamação da República, regime que servia melhor a seus anseios de autonomia. Essa nova oligarquia, mais dinâmica, também se posicionou com firmeza, ao lado de setores sociais e políticos de espectro amplo, pelo fim do regime escravocrata, defendido àquela altura basicamente apenas pelos setores agrários mais atrasados e ineficientes.

De forma pioneira à época em que conclui o estudo, em 1964, Viotti demonstra que a expansão da cultura do café, a partir do fim da primeira metade do século 19, contribuiu em grande medida para o prolongamento do tráfico e do regime escravocrata. E que sua decadência, do mesmo modo, esteve intimamente relacionada aos estertores da escravidão no Brasil.

Até a publicação do livro, a maior parte estudos considerava a abolição como fruto, exclusivamente, dos movimentos abolicionistas, atribuindo importância vital à atuação do imperador D. Pedro II e da princesa Isabel e à legislação emancipadora editada sob seus governos, sem, no entanto, relacioná-la às demandas sociais e econômicas então em curso.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp