Teórico da tradução aponta ‘estrangeiridade’ nas versões entre diferentes idiomas

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terça-feira, 18 de junho de 2019

Tendo em mente o papel de ponte entre nós e o outro, obra do inglês Lawrence Venuti retoma, questiona e matiza o refrão do “tradutor como traidor” 

“Traduttore, traditore” [tradutor, traidor] diz a velha máxima, que ora é retomada, questionada e matizada, pelo tradutor e pesquisador Lawrence Venuti em Escândalos da tradução: por uma ética da diferença, lançamento da Editora Unesp, uma profunda reflexão sobre o ofício da tradução. “A tradução é estigmatizada como uma forma de escrita, desencorajada pela lei dos direitos autorais, depreciada pela academia, explorada pelas editoras e empresas, organizações governamentais e religiosas”, anota. “Quero sugerir que a tradução é tratada de forma tão desvantajosa em parte porque propicia revelações que questionam a autoridade de valores culturais e instituições dominantes.”

Ao longo de oito capítulos, o autor estuda traduções canônicas de obras clássicas para a língua inglesa e o processo de seleção e versão de títulos: o exame detalhado deste material demonstra como as circunstâncias sociais, econômicas, políticas e culturais influenciaram a escolha e tradução desses livros. Um dos exemplos de “escândalos de tradução” pode aparecer onde menos se espera. Ele exemplifica com a edição de abril de 1990 da Courier, uma revista mensal publicada pela Unesco para promover o entendimento intercultural, sobre a história dos povos mexicanos. “A tradução em inglês é extraordinária por seu viés ideológico contra os mexicanos pré-colombianos, cuja cultura oral é representada como inferior [...]. Assim, antiguos mexicanos (ancient Mexicans) (antigos mexicanos) é traduzido por Indians (índios), distinguindo-os claramente dos seus colonizadores espanhóis; sabios (wise man) (homens sábios) como diviners (adivinhos), opondo-os ao racionalismo europeu; e testimonias (testimonies) (testemunhos) como written records (registros escritos), privilegiando sutilmente as tradições literárias em detrimento das orais.”  

Venuti apresenta “uma série de estudos culturais que têm como objetivo promover a reflexão atual sobre a tradução”, escreve. “Eles movem-se entre diversas línguas, culturas, períodos, disciplinas e instituições diferentes num esforço para descrever e avaliar os efeitos sociais de textos traduzidos, expandir as possibilidades para projetos de tradução, estabelecer de forma mais firme a tradução como uma área de pesquisa acadêmica, e conquistar para os tradutores uma autoridade cultural maior e um status legal mais favorável, sobretudo (embora não exclusivamente) nos Estados Unidos e no Reino Unido.” 

Sobre o autor - Lawrence Venuti, professor de Língua Inglesa na Temple University (Filadélfia, Estados Unidos), é teórico de tradução, historiador e tradutor. Além do presente livro, é autor de outras obras índice na área de tradução, como A invisibilidade do tradutor (1995) e Translation Changes Everything (2013). Também organizou e editou as obras Translation Studies Reader (2012) e Teaching Translation: Programs, Courses, Pedagogies (2016). 

Título: Escândalos da tradução: por uma ética da diferença
Autor: Lawrence Venuti
Tradução: Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda, Valéria Biondo
Revisão técnica: Stella Tagnin
Número de páginas: 421
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 69,00
ISBN: 978-85-393-0787-6  

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp