Se uma imagem vale mais do que mil palavras, como dizia o escritor alemão Kurt Tucholsky, certos pesquisadores da História ainda veem pinturas, esculturas, fotografias e demais artefatos imagéticos com ressalvas, como se houvesse pouca – ou nenhuma – credibilidade naquilo que não fossem letras desenhadas em pergaminhos ou impressas por Gutenberg. Mas imagens, após serem submetidas às críticas de fontes pertinentes ao rigor científico, podem ser tão confiáveis quanto os textos escritos, defende o historiador inglês Peter Burke em Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica, que acaba de ganhar nova impressão.
“Este livro está primordialmente interessado no uso de imagens como evidência histórica. É escrito tanto para encorajar o uso de tal evidência, quanto para advertir usuários em potencial a respeito de possíveis perigos”, escreve Burke. “Imagens, assim como textos e testemunhos orais, são uma forma importante de evidência histórica. Elas registram atos de testemunho ocular.”
O texto acessível convida os leitores a visitar pinturas, esculturas, fotografias e filmes de modo a evidenciar seu potencial historiográfico. Ao longo de seus onze capítulos, Peter Burke também adverte que as imagens são uma peça da história, com uma perspectiva própria e que, por isso, merece ser analisada como tal. Sem ingenuidades, “muitas vezes dizendo mais sobre seu contexto de produção que sobre o tema que buscam retratar”. Somam-se a isso discussões sobre realismo fotográfico, diferença entre iconografia e iconologia, uso religioso e político das imagens, a função propagandística e até o perigo dos estereótipos e as visões do “outro” nas composições visuais.
“Relativamente poucos historiadores trabalham em arquivos fotográficos, comparado ao número desses estudiosos que trabalham em repositórios de documentos escritos e datilografados. Relativamente poucos periódicos históricos trazem ilustrações e, quando o fazem, poucos colaboradores aproveitam essa oportunidade”, anota Burke.