Mais que uma biografia ou uma nova interpretação da obra de Gilberto Freyre, Maria Lúcia Pallares-Burke nos oferece uma narrativa que acompanha os elementos formadores do pensamento freyriano. Esta ampla pesquisa revela a trajetória do autor de Casa grande & senzala, o mundo cultural no qual ele estava inserido e as influências anglo-americanas e nacionais que o levaram a abandonar a falácia do racismo científico e a entender a miscigenação sob uma nova perspectiva. Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos nos apresenta as ideias que, absorvidas e transformadas, permitiram a Freyre gerar a contribuição original e definitiva que mudou a maneira como o Brasil se percebia.
Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke foi professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é Research Associate do Centre of Latin American Studies, University of Cambridge. É autora de, entre outras obras, Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos (Editora Unesp), livro laureado em 2006 com os prêmios Jabuti (Ciências Humanas) e Senador José Ermírio de Morais, este último concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Os métodos da chamada "nova história cultural" têm sido amplamente discutidos nos últimos anos. Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke teve a excelente ideia de entrevistar alguns praticantes desse "estilo" de história, pedindo-lhes que justificassem suas abordagens e também que, refletindo sobre suas trajetórias intelectuais, contassem um pouco de suas próprias histórias. O resultado dessas conversas é uma série de diálogos, ao mesmo tempo informais e esclarecedores, que conseguem a façanha de levar o leitor para a intimidade da "oficina" do historiador.
A sofrida trajetória do alemão Rüdiger Bilden, contemporâneo e amigo de Gilberto Freyre, a quem influenciou de modo expressivo, é o tema central deste livro, escrito por Maria Lucia Garcia Pallares Burke, autora de Gilberto Freyre – um vitoriano dos trópicos (Editora Unesp, 2005). A obra retrata o brilhantismo intelectual, a ascensão e a queda no ostracismo do pensador alemão nascido em 1893.
Os textos reunidos nesta obra procuram apresentar as novas interpretações que os analistas da produção de Gilberto Freyre têm recentemente elaborado e fornecer ao leitor um roteiro, uma aproximação original a temas e problemas já tratados, bem como a descoberta de novas perspectivas e frentes de reflexão. O pensamento de Gilberto Freyre esteve à frente do seu tempo pelas questões que aborda, pela metodologia inovadora de que faz uso e pelas fontes inusitadas a que recorre, como se observa em: Casa Grande & Senzala (1933) - uma inversão nas leituras racistas disponíveis no período fazendo com que a mestiçagem, vista como origem de nossos males, transforme-se em nossa maior virtude; Sobrados e Mucambos (1936) - dá continuidade à análise da família patriarcal no Brasil, ampliando temas e questões que dizem respeito não apenas ao período e à decadência do patriarcalismo, mas que atingem a cena contemporânea, como as relações entre o público e o privado; e Nordeste (1937) - belíssimo livro, em que o sociólogo envereda de modo original por domínios pouco conhecidos, como o das relações entre cultura e natureza, apresentando o interesse inédito pela higiene, alimentação e culinária, bem como a preocupação com os hábitos íntimos, com o corpo, vida sexual, moda, comportamentos femininos, entre outros. Será possível ao leitor percorrer caminhos e veredas à primeira vista "menores", mas que permitem alcançar as linhas de força que estruturam a sociedade brasileira.
Uma nova obra de referência, que abre espaço para que Humberto Mauro, artista mineiro, considerado o mais brasileiro dos diretores do cinema nacional, seja conhecido na totalidade das facetas de sua ampla filmografia. Mauro fez filmes entre 1925 e 1974, e construiu uma trajetória repleta de imagens que se tornaram matrizes do cinema brasileiro. Neste livro, que relata os 50 anos de atividade de Humberto Mauro e discute a possibilidade da existência de um cinema brasileiro e dos seus vínculos com a grande arte universal, a autora reflete sobre a possibilidade de filmar o Brasil e seu povo sob um olhar também nacional. Com essa proposta, o estudo ilumina o Cinema Novo e ajuda a projetar hipóteses sobre os caminhos da produção nacional.
Chamado diversas vezes de "monumento nacional" e considerado pelo modernista Oswald de Andrade "nosso escritor totêmico", Gilberto Freyre é mostrado neste livro como um rompedor de tabus, dono de um estilo coloquial que ofendeu alguns de seus primeiros leitores no início da década de 1930. Essencial para seu projeto era o foco no cotidiano, que incluía o estudo de culinária, vestimentas, habitação, corpo, pessoas comuns, objetos modestos e detalhes triviais. Ele era ainda surpreendetemente avançado em alguns aspectos. Nos anos 1920, já expressava preocupação com a devastação das florestas e, na década de 1930, promoveu estudos afro-brasileiros. Interessava-se por medicina alternativa e escreveu sobre a história do corpo, da sexualidade e até dos cheiros. Além disso, ao contrário de alguns de seus contemporâneos, movia-se com facilidade entre os mundos da "alta" cultura e da cultura "popular".