Como escrever sobre o problema do mal de maneira razoável, sem sobrecarregar o leitor com fórmulas metafísicas da teologia e da filosofia, e, ao mesmo tempo, sem deprimi-lo inutilmente com um compêndio histórico das desgraças humanas, de Adão e Eva à bomba atômica? Terry Eagleton enfrenta esse desafio fazendo deste livro uma espécie de caldeirão das bruxas de Macbeth, com ingredientes diversos, desde os mais sutis até aqueles considerados absolutamente repugnantes.
Terry Eagleton é teórico e crítico literário, filósofo e intelectual público. Atualmente, ocupa o cargo de Distinguished Professor de Literatura Inglesa na Universidade de Lancaster. Entre seus vários trabalhos publicados no Brasil, destacam-se Ideologia: uma introdução (Editora Unesp/Boitempo, 1997), além de Marx e a liberdade (2002), A tarefa do crítico (2010), A ideia de cultura (2.ed., 2011), Doce violência: A ideia do trágico (2013), O sentido da vida: uma brevíssima introdução (2021), Sobre o mal (2022), Esperança sem otimismo (2023) e Materialismo (2023), todos pela Editora Unesp.
A Revolução Francesa "foi, e continua sendo, a base para uma enorme esperança, a esperança de mudar o mundo, eliminando as injustiças, em nome das luzes da razão e não de um fanatismo cego. Como ela se inscreveu na história num momento determinado da evolução das forças econômicas, sociais e culturais, sabemos que seu êxito teve origem na união das aspirações da burguesia e das classes populares. E, por causa disso, percebe-se bem tudo que fica faltando: a conquista da igualdade pela mulher, a ratificação do fim da escravidão, mas, sobretudo, a eliminação das desigualdades sociais, no momento mesmo em que, ao desferir o golpe derradeiro no feudalismo, ela estabelece as bases sobre as quais irá progredir a sociedade liberal, do século XIX até os dias de hoje."
Este perfil biográfico e intelectual de Terry Eagleton, além de acompanhar a trajetória do mais rebelde dos críticos culturais ingleses, ilumina as transformações da teoria cultural, da história das ideias, da sociologia e da própria teoria marxista nos últimos cinquenta anos. Acompanhamos aqui a gênese da visão política deste prolífico e profundo defensor do igualitarismo e compartilhamos de seu olhar aguçado para desafiar e modificar o campo da teoria literária.
Para Marx (1818 - 1883), o ser humano é livre quando produz sem o agulhão da necessidade física. Esta é a natureza essencial de todos os indivíduos. Eagleton nos faz ver que Marx está mais preocupado com a diferença do que com a igualdade e que a liberdade, para ele, implicaria a libertação do trabalho comercial: “superabundância criativa acima do que é materialmente essencial”.
Eagleton toma como base sua insatisfação quanto ao significado antropológico amplo e com o sentido estético rígido da "cultura", e busca algo que a diferencie de outros conceitos fundamentais da Sociologia, por considerar em jogo o uso do conteúdo da alta cultura. Busca as transformações históricas pelas quais o termo passou e seus usos contemporâneos. Ao mergulhar na crise moderna da idéia de cultura, aborda os choques culturais, a dialética da natureza e da cultura, dialogando com Marx, Nietzsche e Freud, e aprofunda a visão com relação à homogeneização da cultura de massas, a função da cultura na estruturação do Estado-Nação e a construção de identidades e sistemas doutrinários.
Finalmente a relação entre geografia e desenvolvimento recebe a devida atenção. Prevaleceu durante décadas a sensação de que, já que a geografia é imutável, não existe motivo para levá-la em conta nas políticas públicas. Geografia é destino? recusa essa premissa. A obra argumenta que, com base em um entendimento melhor da geografia, as politicas públicas podem ajudar a controlar ou canalizar sua influência na direção dos objetivos do desenvolvimento econômico e social. Utilizando tanto uma perspectiva internacional quanto uma abordagem de estudo de caso, o livro explora os fatores geográficos – produtividade da terra, condições de saúde, frequência e intensidade dos desastres naturais e acesso ao mercado – para ajudar a explicar as diferenças de desenvolvimento entre os países e em seu interior. Ele conclui propondo políticas que superem as limitações geográficas. Geografia é destino? é leitura obrigatória para todos que trabalham na administração federal e regional, em organizações internacionais, na universidade e no setor de pesquisa.