A viagem, a memória, o ensaio: sobre Casa-Grande & Senzala e a representação do passado
Um estilo de História analisa a forma com que o autor de Casa-grande & senzala se valeu da viagem, da memória e do ensaio, para narrar a própria experiência e, a partir disso, desenhar um panorama da família, da cultura e da sociedade brasileira, estabelecendo um novo modo de interpretação da formação histórica do país.
Fernando Nicolazzi é historiador e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto.
“[...] o testemunho é um ato propriamente histórico. Ele ignora a objetividade fria do cientista que conta e explica. Ele se situa no encontro de uma vida particular e interior, irredutível a qualquer média, rebelde a toda generalização e às pressões coletivas do mundo social.” A confrontação do passado com o presente, da tradição com a inovação, e o reconhecimento das continuidades e descontinuidades no processo histórico são alguns dos temas abordados nesta obra, que busca, através deles, compreender não só o tempo presente, mas o próprio sentido da História.
Neste livro, Jacques Rancière propõe uma poética do saber: um estudo do conjunto dos procedimentos literários pelos quais um discurso se subtrai da literatura, dá a si mesmo um status de ciência e significa-o. A poética do saber se interessa pelas regras segundo as quais um saber se escreve e se lê como um discurso específico. Ela procurar definir o modo de verdade ao qual ele se destina.
Neste livro, Jacques Rancière continua sua sutil reflexão sobre o poder da representação de imagens de arte. Como a arte contribuiu para eventos que atravessaram uma era? Que lugar atribui aos atores que participaram desses eventos - ou que deles foram vítimas? De Alexander Medvedkine a Chris Marker, de Humphrey Jennings a Claude Lanzmann, mas também de Goya a Manet, de Kandinsky a Barnett Newman, ou de Kurt Schwitters a Larry Rivers, essas questões remetem à história da própria arte. Perguntar sobre a forma como os artistas recortam o mundo sensível para isolar ou redistribuir seus elementos é questionar a política presente no coração de qualquer abordagem artística. Para Jacques Rancière, não há imagem que não traga em si inúmeras possibilidades de reflexão sobre o contexto em foram produzidas, seja pelo que mostram, seja pelo que ocultam.
Por que os historiadores contemporâneos têm investido tanto na representação do passado? Stephen Bann procura responder a essa questão examinando as modalidades de representação à disposição da historiografia do século XX, pois é a partir daí que um conjunto considerável de manifestações literárias e visuais é tomado como fonte de dados históricos. Isso permite ao autor chamar a atenção para a extraordinária fluidez das fronteiras da história e para as possibilidades não realizadas de articulação com outras disciplinas.
O conceito de cosmovisão, ao qual pouco se recorre nos processos analíticos por parte de historiadores e demais pesquisadores de humanidades, será uma ferramenta fundamental que norteará os temas abordados neste livro, a começar com a análise de Zilda Iokoi sobre Coroas de glória, lágrimas de sangue, livro de Emília Viotti da Costa. Além do livro de Emília, obras de historiadores como E. P. Thompson, Nicolau Sevcenko, Aby Warburg, Tzvetan Todorov, Peter Burke e Chalmers Johnson serão igualmente objeto de exame das reflexões que compõem este volume. Em todos esses casos, autores diversos e temas por vezes díspares sugerem visita ou revisita, sempre instigante, ao clássico tema do significado de História e da tarefa do historiador.