Um estudo sobre a concorrência do escritor João Antônio
O livro analisa parte da correspondência do contista João Antônio (1937-1996), especificamente um conjunto de cartas trocadas entre o autor paulistano e o amigo e colaborador Jácomo Mandatto entre os anos de 1962 e 1995. Nelas, a pesquisadora investiga a relação dos missivistas com o mercado editorial, bem como as estratégias utilizadas por eles para ampliar a venda dos livros. Além disso, as cartas demonstram a importância dada pelos correspondentes ao trabalho dos críticos de literatura. A discussão sobre a linguagem empregada por João Antônio nesta correspondência também faz parte da análise. A tese central é a de que as cartas do escritor mantêm um diálogo constante com sua obra, seja do ponto de vista do tema, seja do ponto de vista formal, uma vez que há coincidências no que concerne ao trato com a linguagem. Centenas de cartas guardam muitas similaridades com a obra do escritor, que nelas cria uma atmosfera ficcional que as faz mais um meio de difusão de sua literatura. Deste ponto de partida, é discutido ainda o estatuto do gênero "carta" e a diluição dos gêneros empreendida pelo contista em sua produção epistolar e também ficcional. As cartas também seriam parte de um projeto, mais ou menos consciente, dos dois amigos de fundir suas imagens públicas e privadas, promovendo a diluição das fronteiras entre realidade e ficção.
Autor deste livro.
O autor mergulha no clássico Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, para mostrar os mecanismos lingüísticos que relacionam o discurso verbal ao plástico, chegando a concepções sobre o pensamento estético de Proust, que podem ser ampliadas para o questionamento sobre a atividade artística, em suas mais variadas formas de expressão. Realiza um paralelismo entre diferentes sistemas lingüísticos, especialmente entre literatura e pintura, gerando uma ampla discussão sobre os elementos fundamentais proustianos. Mostra como o discurso se vale da palavra para romper os limites do dizível e permite uma visão da capacidade de Proust de entrelaçar intelectualismo e impressionismo, o que lhe possibilitou atingir os mais delicados matizes em sua reprodução de estados sensoriais e espirituais.
Os sistemas clássicos limitavam-se geralmente a registrar a dicotomia artificial das artes do espaço e das artes do tempo. A classificação tradicional das artes opõe as três artes plásticas (arquitetura, pintura e escultura) às três artes rítmicas (dança, música e poesia). Uma das grandes descobertas de Etienne Souriau, segundo Huisman, consistiu na crítica da oposição entre o plástico e o rítmico. Com efeito, ele mostrou como as artes plásticas comportam igualmente um tempo essencial, como as artes ditas do tempo, e que as artes rítmicas são tão espaciais como as ditas do espaço.
Kiernan dedica à obra shakespeariana uma análise distinta daquela que caracteriza a maior parte dos comentários publicados. Segundo ele, trata-se de associar Shakespeare "ao ambiente em que o poeta respirou". Kiernan mostra como os feitos dramáticos e poéticos do dramaturgo inglês não transcenderam seu meio, mas, ao contrário, foram diretamente influenciados pela sua consciência cívica e por sua reação crítica às mudanças então ocorrentes na sociedade.
Estudo de características da prosa de ficção dos romantismos alemão e brasileiro, considerando as peculiaridades de cada movimento e as circunstâncias histórico-literárias em que surgiram. Abrangente e documentado com seriedade, o livro trata de questões relativas ao tema, como transcendência, subjetividade etc. de modo bastante claro e preciso, sendo de leitura agradável e de fácil compreensão mesmo para um público não especializado.
Apesar de ter ganho o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras em 1937, Magma, de João Guimarães Rosa, ficou inédito, por vontade do autor, até 1997, quando foi publicado postumamente. Mesmo reconhecendo, como o próprio Rosa, o estatuto de obra menor dessa única incursão do magistral autor de Grande sertão: veredas no terreno da lírica, Maria Célia Leonel, professora da Unesp, câmpus de Araraquara, percebeu e pôs-se a estudar, de maneira cuidadosa e original, a importância dos poemas de Magma na germinação da prosa poética do ficcionista, sobretudo de Sagarana, sua primeira publicação.