(Mito e história no universo rosiano) - O amor e o Poder
Livro que procura discutir parte da obra de Guimarães Rosa como sendo a de um intérprete do Brasil, de forma peculiar (como afirma o autor) que, nos seus três primeiros livros, apreciou os costumes da vida pública junto aos da vida privada, os familiares e amorosos, próprios do romance. Demonstra como as três obras iniciais de Rosa, Sagarana, Corpo de baile e Grande sertão: veredas, se relacionam e se imbricam, podendo as duas primeiras ser consideradas como estudos preparatórios para Grande sertão. Nessa perspectiva, o autor investiga a genealogia e a formação do herói jagunço; a gestação dos paradigmas amorosos de Grande sertão, já incubados em Sagarana e desenvolvidos num dos romances de Corpo de baile; e a teatralização do drama civilizatório no Brasil.
Luiz Dagobert de Aguirra Roncari é professor livre-docente da área de Literatura Brasileira da FFLCH-USP, desde 1988. É autor do romance Rum para Rondônia (Siciliano, 1992), de Literatura Brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos (Edusp, 1995 e 2002, 2.ed. revista e ampliada) e O Brasil de Rosa: o Amor e o Poder (Editora Unesp, 2004).
O grande desafio deste livro está na habilidade de realizar análises críticas de três dos principais escritores em língua portuguesa de todos os tempos: Guimarães Rosa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Os elementos comuns estudados incluem a crítica à sociedade patriarcal nacional e, acima de tudo, uma ponte constante, com idas e voltas, entre a história e a literatura. Roncari consegue desvendar caminhos interpretativos com base na leitura atenta de descrições de cenas e paisagens, além de verificar como a escrita se comunica com o poder econômico e social. Texto e contexto são assim relacionados com extrema competência, mostrando como instabilidades de ordem social presentes no sistema capitalista encontram reflexo na literatura e vice-versa.
Ao prosseguir suas análises sobre o escritor mineiro Guimarães Rosa, o crítico Luiz Roncari se debruça neste livro sobre a “parte negra” do romance Grande sertão: veredas. A investigação sensível das agruras de Riobaldo em sua constituição de sujeito, do despreparo para ser chefe à ação integradora, mediada pela relação ambígua com o poder, é palmilhada com vagar pelo autor, deslindando os redemunhos frasais apenas para recompô-los sob nova luz, direcionada para o ato interpretativo. A atenção aos meneios da pulsão formal, na transitividade profusa entre epopeia e romance, cifra destinos e modos de contar urdidos por uma voz narrativa que, oscilando entre o parecer das ações reportadas e o ser da intimidade que se confessa, compõe a híbrida figura de um “guerreiro penseroso”, cujo anseio central, ladeado pelas lutas e amores, é o da “superação de si”.
O leitor deste volume certamente concordará com João Cabral, que admirava a produção poética e crítica de Antonio Carlos Secchin. "Papéis de prosa" reúne discursos acadêmicos, entrevistas, uma reflexão sobre a língua portuguesa e ensaios sobre a literatura brasileira, com destaque à obra de Machado de Assis. As análises percorrem os meandros de cada texto em busca de novas relações simbólicas. Em seu conjunto, são recortes pensados e elaborados por um olhar agudo, e escritos com senso plástico e concisão: faca só lâmina. Para o deleite do leitor, a minuciosa mirada analítica de Secchin é movida por um sopro lírico, tornando esses ensaios uma prosa também poética. Milton Hatoum
Neste livro, Luiz Costa Lima revisita temas que lhe são caros em sua trajetória crítica, ajustando as lentes para um aprofundamento da análise de obras como Os sertões, de Euclides da Cunha, e Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre. Articulando potente repertório crítico, Costa Lima acrescenta novas camadas de problematização sobre a fortuna crítica desses autores.
Em um momento histórico no qual o analfabetismo apresenta-se como intolerável, a questão metodológica da alfabetização aparece como central. Tendo em vista tal realidade, José Morais analisa vários aspectos da chamada arte de ler. Partindo das estruturas mentais envolvidas na leitura, da relação entre linguagem falada e linguagem escrita, Morais centra-se nos mecanismos de aprendizagem e nos distúrbios que podem ocorrer nesse processo. Mediante essa estratégia, ele pode desenvolver o estudo dos diferentes métodos, a fim de apresentar as possibilidades terapêuticas que se oferecem hoje aos que não dominam as práticas de leitura.