O imigrante italiano Juó Bananére e António de Alcântara Machado
Neste livro, Francisco Cláudio Alves Marques examina a participação do imigrante italiano no processo de urbanização paulista nos anos de 1920, no qual se misturavam trabalhadores de procedências diversas, como o escravo recém-liberto, o caipira e o imigrante italiano vindo da zona rural, todos “desenraizados” no espaço ou no tempo. É dessa perspectiva que o autor procura compreender as caricaturas elaboradas por Juó Bananére e António de Alcântara Machado, considerando-as mais do que manifestação de rejeição ou acolhimento do imigrante, mas expressão do papel desse contingente nas transformações por que passava o País no período em que se discutia a configuração da identidade nacional.
Para lançar luz sobre a representação do imigrante italiano nas obras daqueles dois escritores paulistas, a autor considera aspectos históricos, sociológicos e culturais implicados no processo imigratório do início do século XX. Partindo da caracterização da personagem macarrônica, nos planos gráfico e linguístico, o autor chega a possíveis sentidos do efeito cômico dessa caricatura na percepção do papel do imigrante italiano na constituição da sociedade brasileira, aspecto que enseja sutil contraste com o nacionalismo na obra de Alcântara Machado.
Professor no departamento de Letras Modernas da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Assis. Possui doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), com linha de pesquisa em Literatura Italiana, Literatura Brasileira e Cultura Popular, e pós-doutorado pela Università degli Studi di Roma “La Sapienza”. É autor dos livros “Um pau com formigas ou o mundo às avessas: a sátira na poesia popular de Leandro Gomes de Barros” (Edusp, 2014) e “Escritos e ditos: poéticas e arquétipos da literatura de folhetos – Itália/Brasil” (Humanitas, 2018).
O grande público não se interessa pela arte contemporânea, mas será que a arte contemporânea se interessa pelo público? É a partir de questões como essa – estampada no Museu D’Orsay, em Paris, anos atrás – que o escritor e crítico Affonso Romano de Sant’Anna instaura uma reflexão original em torno do que chama de a insignificância nas artes plásticas contemporâneas, ou seja, o fato de que as obras privilegiam a construção da não significação, em completa oposição à tradição não apenas das artes plásticas, mas das artes de modo geral. Avançando em discussões travadas em livros anteriores como Desconstruir Duchamp e O enigma vazio, e apoiado em contribuições de disciplinas diversas, com destaque para a antropologia, a linguística e a semiologia, o autor, nos dois ensaios que compõem este livro, propõe modos de interferir na confecção da própria história da arte, pensando em novos métodos para essa história, e assim questionando, por exemplo, qual é o lugar da transgressão na arte. Affonso Romano de Sant’Anna procura traçar o que identifica como a base gramatical do discurso atual das artes plásticas, compreender sua estrutura interna, de forma a refletir sobre esse discurso e, indo além, pensar e problematizar os próprios enigmas de nosso tempo.
No presente livro, Lawrence Venuti expõe o que ele classifica como "escândalos da tradução", observando a relação entre a tradução e as instâncias – corporações, governos, organizações religiosas, editores – que precisam do trabalho do tradutor, mas que eventualmente ainda marginalizam essa função. Como um texto que vai ser publicado num jornal, numa revista, num livro, deve ser traduzido? Quais são os elementos culturais ocultos em qualquer tradução? Estas são algumas questões discutidas neste livro por Lawrence Venuti, que ilustra seus argumentos com traduções da Bíblia, obras de Homero, Platão e Wittgenstein, romances japoneses, africanos, além de textos publicitários e jornalísticos.
Este livro analisa a veia satírica de Olavo Bilac, "contrapondo sua biografia literária às questões destacadas pela recepção ulterior da obra, ... chamando atenção para os pontos não suficientemente investigados do acervo artístico do escritor e denunciando em que medida as lacunas se intalaram por força do preconceitos que ainda vêm cercando a compreensão da obra do poeta". Alvaro simões examina os poemas satíricos de Olavo Bilac, abordados conforme o periódico em que apareceram, sistemática que permite acompanhar o percurso histórico dessa produção ao mesmo tempo que a análise dos poemas individuais faculta o conhecimento de sua temática, estilo e gênero. Predomina a paródia, utilizada para expressar não apenas a vida política na ocasião, final do século XIX, mas também o cotidiano carioca da época. Os poemas aproximam-se ao fait-divers do jornal, coerente com o veículo que difundia os versos satíricos de Bilac, propiciando o entendimento de hábitos populares e problemas marcantes da sociedade brasileira, considerados os esforços de modernização em curso no período.
Neste livro, Thiago Alves Valente faz um percurso panorâmico e histórico da fortuna crítica de A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, configurando um quadro por cujas lacunas pretende caminhar. Ao organizar os vários estudos críticos por eixos temáticos (ideologia, pensamento filosófico, cientificismo, questões estéticas), o autor constata que há a "necessidade de empreender uma análise textual em que os elementos estruturais da narrativa possam ser compreendidos sem sua funcionalidade na construção da obra". Com esse intuito, Valente realiza um confronto entre as modificações feitas por Monteiro Lobato nas várias edições do livro para, em seguida, apresentar com rara originalidade sua crítica desse texto lobatiano, comprovando, por meio de elementos que estruturam a narrativa, de que modo os temas centrais da obra de Lobato estão articulados na criação literária.
Diálogo ciceroniano aborda questões religiosas e filosóficas. É importante ressaltar, no entanto, que sua questão central é a retórica. O diálogo que se estabelece entre os três personagens desta obra satiriza e procura pôr em xeque o discurso ciceroniano. Entretanto, mais do que um ataque a Cícero ou a seus seguidores quinhentistas, Erasmo desenvolve considerações universais e atemporais, ainda hoje relevantes para a estética ou para a avaliação estilística e literária.