Teórico mergulha nas complexidades por trás da ideia de que uma boa tradução se define por sua fluência, transparência e ausência de peculiaridades linguísticas ou estilísticas do idioma original
O que faz de um texto uma boa tradução? Aquela composição que proporciona ao leitor, por alguns instantes, o esquecimento de que está diante de uma tradução, responderiam, quase em uníssono, os inqueridos. Se esta imagem, na aparência, traz conforto, esconde também uma série de dificuldades e complexidades relativas ao produto do laborioso trabalho do tradutor. E é sobre essas questões ocultas sob a lâmina d’água do aparente mar calmo das traduções que Lawrence Venuti se dispõe a enfrentar em A invisibilidade do tradutor: uma história da tradução, lançado pela Editora Unesp.
O livro nasce de seu trabalho de tradutor profissional desde o final da década de 1970. “Mas todos os elementos autobiográficos se inserem, na obra, naquilo que é efetivamente a história da tradução em língua inglesa, do século XVII ao presente”, escreve. “Meu projeto é traçar a origem da situação em que todo tradutor para língua inglesa trabalha hoje, embora de uma perspectiva oposta, com o objetivo explícito de localizar alternativas, de mudar tal situação. As narrativas históricas aqui apresentadas atravessam séculos e literaturas nacionais, mas, embora sejam baseadas em pesquisas detalhadas, elas são necessariamente seletivas, articulando momentos e controvérsias importantes, e francamente polêmicas no que se refere ao estudo do passado para questionar a posição marginal da tradução na cultura anglo-americana contemporânea.”
Ao longo de sete capítulos, o autor explora o que chama de “três teses”. Em primeiro lugar, afirma que toda tradução, independentemente do gênero ou tipo de texto, incluindo a tradução que busca registrar diferenças linguísticas e culturais, é uma interpretação que fundamentalmente “domestica” o texto-fonte; Em segundo lugar, que os termos “domesticador” e “estrangeirante” descrevem não as escolhas de formas verbais específicas ou as estratégias discursivas usadas em traduções, mas, sim, os efeitos éticos de textos traduzidos que dependem da cultura receptora para obter força e reconhecimento; e, por fim, em terceiro, que não é apenas o caso de o tradutor realizar um ato interpretativo, mas também de os leitores precisarem aprender a interpretar traduções como traduções, como textos em si mesmos, a fim de perceberem os efeitos éticos dos textos traduzidos.
“Gostaria de falar com tradutores e leitores de traduções, profissionais e não profissionais, chamando sua atenção para as maneiras de as traduções serem redigidas e lidas e instando-os a pensar em novas formas de fazê-lo”, convida o autor. “A ilusão de transparência é um efeito do discurso fluente, do esforço do tradutor em garantir legibilidade fácil pela adesão aos usos atuais, preservação da sintaxe contínua, fixando um sentido preciso. Mas os leitores também desempenham um importante papel na criação desse efeito ilusório por causa da tendência geral de ler traduções principalmente pelo significado, de minimizar as características estilísticas da tradução do texto ou do autor estrangeiro e de questionar todo uso da linguagem que interfira na aparente transparência da comunicação da intenção do escritor estrangeiro.”
Sobre o autor – Lawrence Venuti, professor emérito de Língua Inglesa na Temple University, é teórico de tradução, historiador e tradutor. É autor de outras obras índice na área de tradução, das quais a Editora Unesp publicou Escândalos da tradução: por uma ética da diferença, em 2019.
Título: A invisibilidade do tradutor: uma história da tradução
Autor: Lawrence Venuti
Tradução: Laureano Pellegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda e Valéria Biondo
Revisão técnica: Richard Sanches
Número de páginas: 704
Formato: 13.7 x 21 cm
Preço: R$ 159,00
ISBN: 978-65-5711-024-9