'O sentido da vida' ganha nova tiragem

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sábado, 28 de maio de 2022

Nesta investigação astuta, espirituosa e estimulante, autor mostra de que maneira pensadores ao longo dos séculos resolveram esta questão particularmente tão problemática nos tempos modernos  

“A questão ‘Qual o sentido da vida?’ parece, à primeira vista, do mesmo estilo de outras como ‘Qual a capital da Albânia?’ ou ‘Qual a cor do marfim?’. Mas seria mesmo? Ou ela estaria mais próxima de algo como ‘Qual o sabor da geometria?’, instiga Terry Eagleton em seu O sentido da vida: uma brevíssima introdução, que acaba de ganhar nova tiragem. No texto, o professor de Literatura Inglesa de Oxford joga luz sobre as inúmeras ramificações do pensamento em torno de encontrar sentido para a existência. Para Eagleton, formular as perguntas é o maior desafio.

“Sabe-se que tipo de resposta as questões tolas costumam receber. Formular uma questão certeira pode abrir horizontes novos ao conhecimento, com outras questões vitais em seu ensejo”, anota. “Filósofos de propensão dita hermenêutica veem a realidade como tudo o que oferece resposta a uma questão. Mas a realidade, como um criminoso experiente, só responde quando é interrogada, e o faz de acordo com os questionamentos que lhe são feitos.”

De forma astuta, espirituosa e estimulante, Eagleton mostra de que maneira pensadores ao longo dos séculos – de Shakespeare a Schopenhauer, até Marx, Sartre e Beckett – buscaram direcionar suas perguntas. “Há uma boa razão para que alguns pensadores considerem essa pergunta como inócua e carente de sentido”, continua. “Pois ela é um bom exemplo de como o sentido pode ser uma questão de linguagem e não de objetos. Refere-se ao modo como falamos sobre as coisas, não a algo que pertença a elas, como textura, peso ou cor. Um repolho ou uma cardiografia são coisas que têm em si mesmas um significado, adquirem-no ao serem inseridas em nossa conversação”.

O autor ainda reflete que, em geral, grandes questões sobre o sentido da vida acabam por aparecer quando papéis, crenças e convenções estabelecidas se encontram em crise. “Talvez não por acaso, as mais célebres peças trágicas surgiram em tais momentos”, diz. “Não é que a questão não tenha um valor permanente. Mas não me parece irrelevante que um livro como Ser e tempo, de Heidegger, tenha sido escrito num período turbulento e publicado algum tempo depois do fim da Primeira Guerra [em 1927]. Da mesma maneira, O ser e o nada, de Jean-Paul Sartre, surgiu em 1943, durante a Segunda Guerra, enquanto o existencialismo, que enxergou o absurdo da vida humana, floresceu nas décadas que se seguiram ao conflito.” Ao fim e ao cabo, meditar sobre nossa existência no mundo seria parte de nossa existência nele. “Mesmo que a condição humana como tal se revele uma miragem metafísica, como insistem os pós-modernos, ela é um objeto plausível de especulação.”

Sobre o autor - Terry Eagleton é professor de Literatura Inglesa da Universidade de Oxford. Entre seus vários trabalhos publicados no Brasil, a Editora Unesp lançou Marx e a liberdade (2002), Ideologia: uma introdução (1997), A ideia de cultura (2005), A tarefa do crítico (2010), Marxismo e crítica literária (2011) e Doce violência: A ideia do trágico (2013).