A sátira narrativa de Hilário Tácito
Apesar da singularidade de Madame Pommery, pode-se dizer que a obra de Hilário Tácito (pseudônimo do engenheiro José Maria de Toledo Malta) acabou quase esquecida pelos críticos literários, em contraste com seu sucesso editorial: com um ruidoso lançamento em 1920, esgotou-se logo a primeira edição. Nesta análise de Madame Pommery, o leitor encontrará a oportunidade de ver realçadas algumas características notáveis dessa obra pré-modernista, um romance de costumes que impressiona seus leitores pela tessitura do texto, pelo requinte da ironia e pela vivacidade da sátira.
Sandra A. Ferreira é professora de Língua Portuguesa, vinculada ao departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras - Unesp, câmpus de Assis. Cursou mestrado e doutorado em Teoria Literária e LIteratura Comparada na Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Nos ensaios deste livro, Sant'Anna estuda o pedregoso caminho da obra de dois de nossos maiores poetas, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, partindo da questão da dificuldades da criação poética. A relação delicada e problemática entre os autores, no limiar entre a filiação a um determinado fazer literário e a elaboração de uma identidade própria, é o ponto de partida para o percurso empreendido.
Prova que a literatura popular existe sem formato de livro. É o resultado de três anos de coleta de relatos orais no Pantanal sul-matogrossense, quando foram ouvidas 27 pessoas em mais de 50 horas de gravação. Valoriza a cultura, a sociabilidade e a criatividade da região. Inclui mitos, lugares assombrados, lembranças da Guerra do Paraguai e histórias sobre vaqueiros e violeiros famosos. A primeira parte traz informações sobre os contadores de histórias e o método de pesquisa; a segunda apresenta as histórias transcritas, divididas em mitos, lendas, contos populares e "causos" sobre condução de bois e caçadas.
Filosofia e lingüística interagem ao longo deste livro. Inicialmente, são analisados Teeteto e Crátilo, diálogos de Platão. Em seguida, o estudo recai sobre o Curso de lingüística geral, de Ferdinand de Saussure. Ensaístas como Deleuze, Nietzsche, Hegel, Marx, Husserl e Merleau-Ponty também são ponto de referência para discutir qual é e como funciona a relação entre as palavras e as coisas. A obra ensina, acima de tudo, a duvidar de respostas fáceis e prontas, pois considera a filosofia a ciência da dúvida por excelência.
Data de muito tempo no Brasil o início do registro de cenas em película. No entanto, embora tenha havido iniciativas de grande envergadura na área cinematográfica, tais experiências naufragaram em maior ou menor grau entre 1930 e 1966 (ano da criação do Instituto Nacional de Cinema), período investigado mais detalhadamente pelo presente estudo. Em busca de compreender por que o cinema não se desenvolveu aqui na mesma proporção de outros países, a autora recolhe e analisa, a partir dos vestígios desses naufrágios, elementos reveladores e surpreendentes da trajetória da sétima arte em nosso país, na qual o Estado esteve intimamente imbricado. O objetivo do livro não é retraçar a relação entre Estado e cinema no Brasil até o momento presente, mas sim identificar e comparar tal relação em dois momentos políticos distintos, o regime autoritário e a democracia. São trabalhados em detalhe os aspectos políticos relacionados à economia e à legislação cinematográfica. O leitor interessado em cinema brasileiro encontrará nesta terceira edição ampliada do estudo de Anita Simis profunda reflexão e pesquisa sobre o desenvolvimento pregresso do cinema brasileiro, que são preciosos insumos para a análise do atual momento da nossa indústria cinematográfica.
O professor Jean Marie Goulemot é um ávido leitor e também um grande frequentador de bibliotecas. Assim, nesta obra praticamente autobiográfica, que remonta às suas principais lembranças, ele nos relata suas andanças por bibliotecas da França, Espanha e Estados Unidos. Traz, portanto, uma narrativa desses caminhos percorridos, mas também serve de mote para que debata sua visão romântica dessas instituições. Goulemot discute e defende a prática da leitura pública, dos espaços comunitários em que indivíduos com sede de conhecimento se reúnem para ler. Por isso critica, de certa forma, o uso da tecnologia nesses ambientes, que estaria criando um processo de distanciamento social diante da consulta a distância de livros. Com o intuito de cativar o leitor para levá-lo a locais de relação com o livro e com outros curiosos, este ensaio é um convite às bibliotecas em qualquer lugar do mundo.