As transformações no discurso do personagem Paulo Honório durante o desenrolar do romance “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, é o centro deste estudo, que tenta evidenciar que elas ocorrem concomitantemente às mudanças ocorridas na caracterização psicológica do protagonista. Para desenvolver tal análise, o autor se utiliza das formulações teóricas de Mikhail Bakhtin (1895-1975), para quem a prosa de ficção tem como eixo norteador uma concepção dialógica tanto das ideias quanto da linguagem veiculadas pela narrativa. A partir das definições de Bakhtin, o pesquisador demonstra que o discurso inicialmente convicto e manipulador do protagonista - predominantemente “monológico” – vai se modificando com a crescente interferência da personagem Madalena, o “outro” que porta uma consciência independente e que, aos poucos, acaba tornando o discurso de Paulo Honório, e a própria narrativa do romance, acentuadamente “dialógicos”. O autor identifica os elementos e estratégias discursivas que caracterizam essas duas instâncias no texto, interpretando a interdiscursividade, que se instaura nesse processo de mudança, como uma representação do conflito entre ideologias sociais opostas, que em vários trechos Graciliano trata usando a técnica da ironia, neste caso com forte conotação crítica.
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Reconstruir a paisagem cotidiana dessa vila de vinte mil habitantes que era a São Paulo do século XIX. Com esse objetivo, os organizadores coletaram uma multiplicidade de referências: depoimentos, novelas, peças de teatro, diários de viagem, pinturas, fotos de paisagens e de tipos humanos. Contextualizado por estudos introdutórios de historiadores e críticos de teatro, esse material aparece como fonte de dados para a compreensão do processo de formação e desenvolvimento da cidade de São Paulo.
Edição de poemas e prosa de Cruz e Souza - um dos principais poetas do simbolismo brasileiro -, antes dispersos em diversos periódicos. A obra é acopanhada de um estudo crítico que apresenta o lugar dessa produção no cenário da literatura brasileira.
Orfeu, o deus trácio que resgata Eurídice das sombras do Hades, representa uma dessas figuras arquetípicas que atravessam toda a literatura ocidental. Mesmo morto, faz ressoar seu canto para a sublimação dos homens. Nesta coletânea, helenistas, críticos literários, arqueólogos e antropólogos apresentam uma reflexão sobre as origens do mito, passando pela leitura das mais significativas expressões literárias e pela busca das práticas semelhantes em grupos indígenas brasileiros e centro-americanos.
Ao reunir crônicas da Seção “História de quinze dias”, posteriormente rebatizada “História de trinta dias”, da revista Ilustração Brasileira, esta edição traz ao público a amostra vivenciada de um Império tropical obcecado pelos padrões culturais e intelectuais europeus. A genialidade do Machado de Assis cronista constrói retrato poderoso desse país peculiar, oscilante entre a esforços modernizadores e a incipiência cultural e econômica.
“Não tento decidir sobre o que é um símbolo, o que é uma alegoria, nem como encontrar a boa interpretação, mas compreender, e se possível manter, o complexo e o plural.” É assim que Todorov demarca sua ambição neste livro, no qual, para falar do fenômeno da simbólica da linguagem, percorre disciplinas como a lógica, a poética, a retórica e a hermenêutica, em espaços e temporalidades diferentes, como a antiga tradição hindu, ou a exegese patrística e a filologia. Os exemplos textuais de que se vale são também variados, passando por Tolstoi, São João da Cruz, Maeterlinck, Henry James, Flaubert, Baudelaire, Rimbaud, Nerval e Kafka. Obra esclarecedora, que estabelece de forma precisa os diálogos entre esses vários estudos, entrelaçando os campos da produção e da recepção do simbólico na linguagem.