História e memória da Escola Estadual Bento de Abreu de Araraquara
O livro - uma coletânea de onze artigos escritos por vários autores - reconstitui a história da Escola Estadual Bento de Abreu, da cidade de Araraquara, interior de São Paulo, abordando as transformações nela ocorridas ao longo do tempo e a contribuição da instituição para o sistema de educação da região, a formação de professores e a democratização do ensino. A importância da escola - conhecida como "Ginásio Morada do Sol" - reside no fato de ter sido uma das primeiras de nível médio implantadas pelo governo paulista, que até então privilegiava a educação primária, deixando a cargo da iniciativa confessional, laica e municipal a oferta da educação secundária. No caso de Araraquara, o ginásio oficial correspondia, na verdade, à estadualização do Ginásio Municipal Mackenzie de Araraquara, que já vinha funcionando desde 1914. Fruto de ampla pesquisa documental, o livro examina principalmente o lugar social e cultural representado por essa escola na cidade de Araraquara, destacando a articulação do poder municipal com a iniciativa privada na criação e manutenção da instituição nos seus primeiros anos de funcionamento (1914-1932) e as representações em torno da oficialização do ginásio, pelo qual passaram diversos membros da elite política, econômica, social e cultural da região.
Rosa Fátima de Souza, Vera Teresa Valdemarin e Maria Cristina de Senzi Zancul são docentes da Unesp, especializadas em temas vinculados à Educação.
Autor deste livro.
Rosa Fátima de Souza, Vera Teresa Valdemarin e Maria Cristina de Senzi Zancul são docentes da Unesp, especializadas em temas vinculados à Educação.
O autor analisa aqui a permanência, após a mudança das normas de nomeação, do prestígio social dos milicianos civis da Guarda Nacional do Município de Mariana (MG), província com a maior população livre e escrava do Brasil durante a Regência. Naquele período, a milícia prestava serviços não remunerados e utilizando recursos próprios, com base na noção de honra social e no sentimento de obrigação para com o soberano, suprindo a falta de funcionários públicos necessários à manutenção da ordem social. O soberano, em troca, concedia dádivas, honras e mercês aos oficiais. Até a segunda metade do século 19, os oficiais eram escolhidos por meio de eleições em que votavam os próprios milicianos. E, para se tornar miliciano, bastava ao pleiteante ter status de cidadão ativo, ou seja, ter a mínima condição financeira para votar e ser votado nas eleições primárias. Tal sistema era duramente criticado pelas autoridades, que o consideravam potencialmente perigoso, uma vez que possibilitava a indivíduos não brancos, destituídos de status social em uma sociedade escravocrata, exercerem postos de liderança. No entanto, a partir da segunda metade do século 19, quando os movimentos “perturbadores da ordem” se enfraquecem e o Império torna-se pacificado, o Exército ganha importância e projeção e os políticos conservadores reformam a Guarda Nacional, por meio da Lei 602, de 19 de setembro de 1850. Entre outras determinações, essa lei abole o sistema eleitoral, de forma que os oficiais, daí em diante, passaram a ser nomeados pelos presidentes das províncias mediante propostas encaminhadas pelos comandantes locais. Mais do que mero capricho jurídico, a nomeação tinha por finalidade romper com o “ranço democrático” da lei anterior e reafirmar a hierarquização no interior da corporação. O autor sugere que, mesmo com a abolição do pleito eleitoral em 1850, os oficiais continuaram a demonstrar carisma, pois o líder deve provar-se como tal perante seus pares, sob pena de descrédito na sua autoridade.
Após o ocaso do marxismo ocidental, a filosofia da história foi aos poucos relegada a segundo plano. Essa é uma visão não compartilhada por Blackburn, que aqui procura recolocá-la na ordem do dia. Sua estratégia passa pela naturalização da história, pois, longe de considerar a natureza como simples pano de fundo para os atores humanos, Blackburn a reposiciona como força ativa que cria e consome a espécie humana. A natureza aparece, então, como a própria razão, graças à qual os homens se renovam e se destroem uns aos outros.
Partindo de um recorte específico – “a história jurídica e política do sufrágio” nos Estados Unidos –, Alexander Keyssar enseja uma discussão ampla acerca do tortuoso caminho da democracia norte-americana. Nesta edição revisada pelo autor, são tratadas também questões que surgiram após o lançamento da versão original deste livro, em 2000, principalmente no que diz respeito à polêmica eleição presidencial de Bush versus Gore. Fruto de intensa pesquisa, O direito de voto traz elementos para o estudo da história política dos Estados Unidos desde a Independência, reunindo diversos documentos históricos – submetidos à análise provocadora de Keyssar – que dão conta do percurso do sufrágio em uma sociedade constituída em torno da autoimagem de pertencimento a um país livre, justo e democrático.
Este livro de Jean-Jacques Becker revisita o pós-guerra para mostrar as limitações que a diplomacia da época enfrentava. Com rigor historiográfico, o autor rebate o argumento de que o Tratado de Versalhes foi o estopim da Segunda Guerra Mundial ou a antessala do nazismo. Em vez disso, mostra que o acordo – uma árdua tarefa de conciliação entre os povos – lançou as bases de um organismo internacional cujo objetivo seria estabilizar as relações entre os Estados. E defende que se o revanchismo alemão era uma previsível consequência da derrota na guerra, a deflagração de um novo conflito mundial não era inevitável.
Em meados da década de 1940, o filósofo alemão Max Horkheimer questiona como evitar que a barbárie, representada pelo nazifascismo e então recentemente derrotada na Europa, retorne ao Ocidente. Para ele, o avanço dos meios técnicos de esclarecimento foi acompanhado por um processo de desumanização, de modo que o progresso ameaça anular o próprio objetivo que deveria realizar: a ideia de homem. Seu objetivo declarado é “investigar o conceito de racionalidade subjacente à nossa cultura industrial contemporânea, a fim de descobrir se esse conceito não contém defeitos que o viciam em sua essência”. Horkheimer toma como ponto de partida a diferenciação entre razão subjetiva e razão objetiva, sendo que a primeira se relaciona à faculdade de calcular probabilidades, de coordenar os meios com um fim, enquanto a segunda remete ao problema do destino humano, à organização da sociedade e à maneira de realização de fins últimos. Da tensão entre ambas, com o predomínio da razão subjetiva em relação à objetiva, emergiu um pensamento transformado em simples instrumento. O autor empreende, assim, uma profunda investigação sobre as intensas mudanças que o advento da industrialização, e com ela o predomínio da técnica, e da racionalização teve sobre a natureza humana, considerando também as implicações filosóficas destas mudanças