Com o título de "A doutrina aristotélica da ciência" este livro foi tese de doutoramento, defendida na Universidade de São Paulo em 1967, logo tornado um clássico entre os especialistas. Ao estudar os Segundos Analíticos, obra reconhecidamente difícil de Aristóteles, Oswaldo Porchat Pereira mostra inicialmente a coerência interna da teoria da ciência tal como exposta no Livro I daquele tratado contra aqueles que nela viam principalmente ambigüidades e hesitações. Demonstra, em seguida, como o Livro II é o complemento indispensável do primeiro, em vez de se contrapor a ele ou de corrigi-lo, como geralmente se pretendia. Por fim, acentua a complementaridade entre a teoria analítica da ciência e a dialética aristotélica, colocando-se, assim, na contracorrente dos estudiosos que insistem em postular oposições desnecessárias entre a teoria e a prática da ciência no filósofo grego.
Oswaldo Porchat Pereira formou-se em Letras Clássicas pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Fez sua graduação em Filosofia na França, o doutorado na FFLCH-USP e pós-doutorados na Universidade da Califórnia a na London School of Economics and Political Sciences. Lecionou na USP até 1975, quando se transferiu para a Unicamp, para formar o Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência e o Departamento de Filosofia daquela universidade. Em 1985, retornou à FFLCH-USP que, em 2001, lhe concedeu o titulo de Professor Emérito. É autor de Ciências e dialética em Aristóteles (Editora Unesp).
Os artigos que compõem esta coletânea foram publicados entre 1969 e 2005 e têm uma temática persistente: a da vida cotidiana e comum que a filosofia não pode nem deve trair se não quer converter-se em mero jogo de palavras. Para o autor, o pirronismo repensado e rearticulado conforme a linguagem e os problemas filosóficos da contemporaneidade, preserva, no entanto, total consonância com a inspiração original do pirronismo histórico e a mensagem da Sképsis grega continua plenamente atual, respondendo às necessidades filosóficas também de nosso tempo.
“Se a história é a história das condições do poder, então a história é a história dos usos e abusos da retórica que sustenta o poder. A luta política talvez seja exclusivamente retórica e com isso a força seria apenas um complemento posterior, pois toda demonstração de força valeria apenas por seu efeito retórico de aumento, manutenção ou perda de poder”. Ao formular nesses termos o problema da ordem (e da desordem) social, Ricardo Monteagudo nos faz entender que o tema da linguagem é, de fato, um lugar privilegiado para discutirmos a simbiose entre retórica e política na obra de J.-J. Rousseau. Tendo como pano de fundo um quadro histórico da retórica, dos autores da Antiguidade até Perelman e Todorov, a tese deste livro pode ser assim enunciada: no âmbito dos escritos políticos do filósofo genebrino, em particular no Discurso sobre a origem da desigualdade e no Contrato social, as condições de possibilidade das relações civis são estabelecidas, tanto para o bem quanto para o mal, pelo uso retórico da linguagem. Longe de se limitar a uma mera exegese acadêmica de textos datados, este trabalho se apresenta a nós, leitores do século XXI, como prova cabal de que certas investigações de Rousseau acerca do discurso político permanecem atualíssimas. Monteagudo se inscreve dessa maneira numa linhagem bibliográfica que, no Brasil, remonta às análises memoráveis de Bento Prado Jr. e Luiz Roberto Salinas Fortes sobre o assunto. THOMAZ KAWAUCHE
Físico, matemático, astrônomo, filósofo e literato, Galileu Galilei foi um dos pilares do Ocidente contemporâneo. Nos textos reunidos em Ciência e fé, travamos contato com o seu pensamento revolucionário, ao desvendar as relações entre a Ciência da Natureza (chamada na época de "Filosofia Natural") e a interpretação que a tradição católica faz da revelação bíblica durante o século XVII.
Para o filósofo Jean-Paul Sartre, a literatura redescobre a sua função na sociedade quando a sua percepção da realidade passa a ser constituída pela consciência da historicidade. Isso significa um mergulho brutal na atualidade de cada um. A prática literária é então entendida como uma "ação na história", ou seja, uma síntese entre o irredutível e o relativo; e entre "o absoluto moral e metafísico" e a contingência histórica. Neste livro, o filósofo Franklin Leopoldo e Silva mostra por que, para o pensador francês, a tarefa ética da literatura é construir a mediação necessária para que o homem tome consciência de sua alienação. Portanto, escrever é agir, pois significa comprometer-ser com uma ação social conreta e prática, não se limitando apenas a uma atitude de contemplação do mundo.
Latour proporciona aqui uma audaciosa análise da ciência, demonstrando o quanto o contexto social e o conteúdo técnico são essenciais para o próprio entendimento da atividade científica. Por onde podemos começar um estudo sobre ciência e tecnologia? A escolha de uma porta de entrada depende crucialmente da escolha do momento certo.