Pensar e escrever a história com Paul Veyne
Os elos entre a filosofia e a história são o tema deste estudo. A base teórica é o pensamento do historiador Paul Veyne, que reflete sobre a sua prática de um ponto de vista que leva em conta questionamentos de cunho filosófico. A partir daí, são apontadas questões filosóficas que o historiador deve levar em conta em suas pesquisas. Ao longo do livro são definidos e encadeados elementos constitutivos da tarefa narrativa do historiador e da sua construção teórica. Temas que dizem respeito ao objeto da história e à causalidade histórica, assim como relações entre conceito, acontecimento e totalidade histórica, são enfocados, como também as diferentes concepções filosóficas da ligação entre o ato de narrar em si mesmo e o de construir filosoficamente essa narrativa.
Hélio Rebello Cardoso Jr. é professor de Filosofia da Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Deleuze, Foucault, inconsciente, história e semiótica. É coordenador do Grupo de Pesquisas CNPq "Deleuze/Guattari e Foucault: elos e ressonâncias".
Deleuze e Guattari desenvolveram um conceito inovador de inconsciente-multiplicidade, resultado da interlocução do pensamento desses autores com a psicanálise e com uma série de aliados, filósofos ou não. Esse conceito procura fornecer uma definição do inconsciente como substância múltipla com amplitude sócio-histórica, em contraposição às versões correntes em que o "ele" é associado à representação de um drama da memória ou ao simbolismo da linguagem. Neste livro, Hélio Rebello Cardoso Jr. reúne diversos textos voltados para aspectos práticos do inconsciente-multiplicidade, traçando um painel abrangente dessa importante linha de força do trabalho de Deleuze Guattari.
Gilles Deleuze estabeleceu uma metáfora que mostra bem o desafio de comentar a obra de um pensador. Ela consiste em pensar esse processo como o arremesso de um dardo em que uma geração recebe o objeto de um lançador e, para valorizar esse esforço, é necessário enviá-lo cada vez mais longe, onde alguém dará seguimento ao processo.
O autor busca seguir o conselho de Deleuze para que esta ação tenha sucesso, ou seja, aumentar as distinções que o pensador prévio, o que significa, na pragmática da atividade crítica, abrir no campo das idéias do intelectual que se está estudando uma fresta que permita retirar algum elemento novo.
Surge, assim, um problema filosófico presente em um pensamento, mas que não havia sido antes formulado explicitamente. Ele é visto como “menor”, segundo o filósofo, por se desvincular das grandes linhas de senso comum, consideradas majoritárias, que nutrem uma opinião em torno de certa centralidade reconhecida como evidente.
A partir dessa perspectiva, o livro percorre um plano conceitual que circunscreva, por meio de noções e conceitos apropriados, o que efetivaria essa pragmática segundo as coordenadas filosóficas do pensamento de Gilles Deleuze. A vinculação, nesses termos, entre filosofia da imanência e empirismo é a aposta ontológica maior.
Este estudo revela a importância de pregadores imperiais como gênese de uma intelectualidade brasileira, no início do século XIX. Ele demonstra o papel fundamental da oratória sagrada no Brasil oitocentista, em um tempo onde o analfabetismo era imenso, e a palavra falada, o principal mote às discussões locais. A Corte havia chegado recentemente, o sistema administrativo estava ainda em formação, e as igrejas constituíam os poucos espaços que reuniam a população. A par de um fervor religioso, forma-se também um sentido de identidade nacional, que vem a originar a construção de um discurso brasileiro.
A relação dinâmica entre os homens e as suas roupas, dissecada sob um enfoque sociológico e artístico, é o tema deste livro. Todo um jogo de valores, de identidades e de metáforas sociais, políticas e éticas é analisado com base no uso da roupa preta pelos homens ao longo dos séculos. Abordagens do uso do preto na Espanha, durante o reinado de Felipe II (1556-1598), na época de Shakespeare e na obra de Charles Dickens, as casas sombrias na Inglaterra, as vestimentas masculinas e femininas e o uso do preto no mundo contemporâneo. Utilizada inicialmente no Ocidente como símbolo de luto, a roupa preta vem ganhando, ao longo do tempo, uma proximidade cada vez maior com o poder.
Os ensaios presentes neste livro resgatam a memória de um dos mais importantes encontros literários da história do Brasil e propõem uma reflexão sobre a produção literária brasileira contemporânea e sobre a fortuna crítica e historiográfica que floresceu nesse período.